O aniversário de 36 anos da Novembrada – protesto organizado por líderes estudantis durante a visita do general Figueiredo a Florianópolis, no dia 30 de novembro de 1979 – motivou a realização de sessão especial em defesa da democracia, na noite de quinta-feira (3), no Parlamento catarinense. A solenidade, convocada por proposição do deputado César Valduga (PCdoB), contou com a participação de personalidades e representantes de entidades que contribuíram com a resistência durante a ditadura militar. A defesa da presidente Dilma Rousseff marcou o tom dos pronunciamentos durante a sessão.
A participação de milhares de catarinenses no ato histórico conhecido como Novembrada é motivo de orgulho, conforme o deputado Valduga. Mas ele ressaltou que “a centelha golpista que incendiou o Brasil em 1964 segue acesa”. Falando aos homenageados, afirmou que “temos o dever de honrar o compromisso com o legado de lutas e conquistas que os senhores e as senhoras nos deixaram, de defender a liberdade e a democracia. Repudiamos toda e qualquer tentativa de ruptura democrática, toda e qualquer tentativa de golpe. Ninguém pode tirar de nós aquilo que custou o sangue, suor e as lágrimas de tantos brasileiros e brasileiras”.
Em nome dos homenageados, a feminista e ativista pelos direitos da mulher Clair Castilhos Coelho argumentou que o golpe militar de 1964 não foi o único pelo qual o país foi violentado. “Mas esse foi o que coube à nossa geração. Assassinou um projeto de nação utilizando os meios mais truculentos, todas as formas de violação dos direitos humanos, censura às artes, à imprensa e à cultura. Foi executado com rara perversidade um projeto de entrega das nossas riquezas, de nosso patrimônio natural e de nossa soberania”, recordou.
Clair alertou que os golpistas ressurgiram revitalizados. “Desde 1999 ocorrem tentativas de golpes ditos institucionais em toda a América Latina, em uma articulação conjunta da mídia, de organizações transnacionais, dos partidos de oposição e do poder Judiciário. Este ato serve, para além de homenagear, para lembrar a história e reunir cidadãos em defesa da democracia.”
Na mesma linha, o presidente da União Catarinense dos Estudantes (UCE), Yuri Becker, adiantou que deixaria de lado o discurso preparado sobre a Novembrada para falar sobre a “tentativa de derrubada de um governo democraticamente eleito”, iniciada esta semana com a aceitação do processo de impeachment da presidente da República pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
“O mesmo movimento de ceifar direitos do período da ditadura está ocorrendo hoje no Congresso Nacional. Devemos nos orgulhar do nosso passado, mas olhar temerosos para o nosso futuro. A presidente sofre uma tentativa de impeachment sem ter cometido qualquer crime de responsabilidade fiscal no exercício de seu mandato atual, conforme diz a Constituição. O que Eduardo Cunha fez foi um golpe à democracia. Cidadãos que defendem o estado democrático de direito não podem se calar. Se nos calarmos, todos aqueles sonhos, todo aquele sangue de nada servirá no nosso futuro”, argumentou Yuri.
Entidades homenageadas:
Associação Catarinense de Imprensa
Centro de Direitos Humanos Maria da Graça Bráz
Coletivo Catarinense Memória, Verdade e Justiça
Diretório Central dos Estudantes Luiz Travassos (DCE/UFSC)
Igreja Metodista
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SC)
União Catarinense do Estudantes (UCE)
Personalidades homenageadas:
Alan Indio Serrano
Antônio Diomário de Queiroz
Aristides Felisbino, representado por Reinaldo Felisbino
Celso Martins, representado por Anita Grando Martins da Silveira
Clair Castilhos Coelho
Delfim de Pádua Peixoto
Derlei Catarina de Luca
Dirceu José Carneiro, representado por Elza Bueno Backes
Edison Adrião Andrino de Oliveira, representado por João Martins Viana
Eurides Luiz Mescolotto, representado por Eliane Luzia Schmidt
Ferdinando Damo
Francisco Alano
Murilo Sampaio Canto
Nelson Rolim de Moura
Nelson Wedekin
Rosângela Koerich Souza
Saulo Vieira
Victor Alberto Danich
Fonte: Lisandrea Costa/AGÊNCIA AL