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A Central Única dos Trabalhadores realiza o 1º Encontro Nacional de Trabalhadores Indígenas nos dias 4 e 5 de novembro, em Sidrolândia, no Mato Grosso do Sul. O Estado é o que concentra maior número de trabalhadores indígenas, atuando em grande parte dentro na indústria da alimentação, como é o caso da cidade que acolherá o evento.


“A ideia é levar o entendimento e elevar a auto-estima do trabalhador indígena sobre a sua importância no mundo do trabalho, ao mesmo tempo em que vamos reforçar a importância da nossa ação coletiva para garantirmos direitos e salários decentes”, declarou José Carlos Pacheco, diretor do Sindicato dos Trabalhadores Municipais de Anastácio e diretor de relações sindicais da Federação Sindical dos Servidores Municipais do Mato Grosso do Sul.


Conforme Evanildo da Silva, diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias de Bauru e Mato Grosso do Sul, o fato da CUT se inserir no debate indígena já garante uma maior visibilidade a um tema ainda  secundarizado pelo movimento sindical. “O não envolvimento dos trabalhadores indígenas na estrutura sindical tem sido prejudicial para as nossas comunidades, que acabam sendo submetidas a trabalhos precários e a baixos salários, pelo completo desconhecimento de direitos”, destacou.


Para José Carlos, o conhecimento do Estatuto do Índio, por exemplo, que fala sobre as condições de trabalho, boa remuneração e igualdade de salário com os brancos, é fundamental para que o trabalhador indígena não seja enganado e submetido a condições degradantes.


“Carteira assinada, Fundo de Garantia, férias remuneradas, tudo isso acaba sendo perdido quando não se conhece a legislação, quando não se tem uma entidade para lutar a seu lado”, acrescentou Evanildo.


José Carlos e Evanildo pertencem ao Coletivo de Trabalhadores Indígenas de Mato Grosso do Sul e há três anos vêm desenvolvendo um intenso processo de conscientização e mobilização junto aos sindicatos cutistas e também em grande parte das 74 aldeias do Estado.


A iniciativa foi abraçada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação (Contac/CUT), que ao lado da CUT-MS, é uma das entidades promotoras do evento.


“O trabalhador indígena tem necessidades diferenciadas, culturais e de costumes, e muitas vezes é tratado de forma desigual, com preconceito e discriminação dentro das empresas”, afirmou Siderlei de Oliveira, presidente da Contac. De acordo com Siderlei, não é só na indústria da alimentação onde o indígena é destratado como ser humano, a discriminação se expressa no trabalho das minas pela Vale do Rio Doce; na construção das usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia; nos canaviais ou cafezais onde sua mão-de-obra massiva e barata é sempre apreciada pelas empresas.


Até o momento já confirmaram presença no 1º Encontro Nacional de Trabalhadores Indígenas representações dos estados do Acre, Amazonas, Bahia, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Piauí, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.


Sidrolândia foi palco de assassinato de indígena


Em março de 2007, Marcos Antônio Pedro, trabalhador da Seara morreu triturado enquanto limpava uma máquina em péssimas condições de segurança. Conforme denúncia do Sindicato, a empresa – então controlada pela multinacional estadunidense Cargill – modificou completamente o local do acidente com o jovem operário de origem indígena, pai de três filhos. A empresa ainda tentou culpar a vítima, dizendo que Marcos havia se suicidado. Posteriormente, por pressão da Contac e do Sindicato, a empresa assumiu a culpa e indenizou a família.


Enquanto Marcos Antônio ainda estava com vida, embora preso pelo eixo (chiller) que leva os frangos até o tanque de resfriamento, os mecânicos quiseram cortar o tanque por baixo. O encarregado deu ordens para que isso não fosse ser feito, porque a peça era muito cara, e determinou que fosse invertido o sentido de rotação, fazendo com que Marcos Antônio fosse cortado ao meio.


Segundo Clodoaldo Fernandes Alves, então auxiliar de inspeção geral da Seara/Cargill e vice-presidente do Sindicato, poucas horas depois da tragédia “o local foi totalmente modificado: cortaram os pés do tanque porque, antes, para não bater com a cabeça na parte superior tinha-se que andar meio agachado e a pessoa ficava bem na beirada do tanque sem nenhum tipo de segurança. Esse desnível muito marcado facilitou a queda de Marcos. Além disso, colocaram chapas de proteção de aço inoxidável em torno do tanque, uma medida de segurança que nunca existiu”.


O presidente do Sindicato, Sérgio Bolzan, denunciou à época “a adulteração da cena do crime”.


CUT por Leonardo Severo

Publicado em 5/10/2011 -

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