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O Brasil nos últimos meses vem apresentando crescimento vigoroso do emprego de carteira assinada, fator que tem sido decisivo na melhoria do perfil de distribuição de renda, verificada a partir de 2004. Os dados do CAGED relativos a dezembro, no entanto, foram os piores no mês desde o início da série histórica, com saldo negativo de 654.946 postos formais de trabalho no Brasil. O número equivale a mais que o dobro da perda média histórica de dezembro que, normalmente registra o fechamento de 300 mil vagas no mês. O resultado de dezembro frustrou a possibilidade de um recorde na geração de empregos formais em 2008, já que o saldo atingido, de 1,45 milhão de empregos formais, foi menor do que os obtidos em 2004 e 2007.

Tudo indica que os primeiros meses de 2009 – pelo menos no primeiro trimestre – serão muito fracos para a geração de empregos. Além de o comércio estar em um período de desova de estoques, o número de ocupados na indústria deve continuar caindo nos primeiros meses de 2009, em função da desaceleração do nível de atividade.

Na tentativa de evitar um travamento brusco dos investimentos, com conseqüências desastrosas para o emprego, o governo federal anunciou no dia 22 de janeiro a elevação do orçamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que terá um reforço de R$ 100 bilhões a serem disponibilizados em 2009 e 2010. Estes recursos serão destinados ao crédito produtivo visando compensar a retração da disponibilidade de crédito. São R$ 50 bilhões por ano que podem ter um papel importante no enfrentamento da crise, na medida em que serão destinados a financiar o investimento. A concessão destes financiamentos vem condicionada a geração de empregos, uma decisão muito oportuna, já que algumas empresas têm financiado demissões com dinheiro subsidiado.

De todos os desafios do Brasil em 2009, o mais crucial é garantir a continuidade do processo de crescimento que o país vem atravessando nos últimos anos. Nem que seja a taxas menores do que as dos anos anteriores. Para tanto, a ação do Estado, que também no Brasil será fundamental, deve: a) garantir a liquidez, isto é, o crédito na economia; b) garantir a renda da população; c) assegurar a manutenção do crescimento do emprego formal. 

Por isso é fundamental a manutenção do poder de compra dos salários e, inclusive, os seus ganhos reais. Somente o reajuste em 12% do salário mínimo nacional, a partir de 01 de fevereiro, deve injetar cerca de R$ 27 bilhões na economia em 12 meses e beneficiar 43 milhões de pessoas, segundo estimativas do DIEESE. Medidas tipo a ampliação do valor do Bolsa Família, adotada recentemente, são essenciais porque protegem o que o Brasil tem de mais precioso em termos econômicos, neste momento, que é o mercado interno. O anúncio de R$ 142 bilhões a mais para as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), é medida também correta porque a ampliação do investimento público, é ainda mais importante em um momento como este em que os investimentos industriais entraram em compasso de espera.

Esta crise é grave e não tem solução mágica. Apenas ficar jogando dinheiro no sistema financeiro, como estão fazendo alguns países onde a recessão já bateu, parece que não vai adiantar. Devemos apostar no mais garantido: manutenção do processo de crescimento do emprego e da renda, e na continuidade da expansão do mercado interno brasileiro.

 

Autor: José Álvaro de Lima Cardoso – Economista e supervisor-técnico do DIEESE em SC

Publicado em 6/02/2009 -

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