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Um dos principais pólos industriais brasileiros está enfrentando a crise sem passar por fortes turbulências. É Jaraguá do Sul, um centro metal-mecânico, alimentício e têxtil situado no norte de Santa Catarina, a 182 quilômetros de Florianópolis. Com 7 mil empresas e uma população de 130 mil habitantes, o município vem conseguindo contornar os efeitos da desaceleração da economia com uma receita simples: dinamismo empresarial e investimentos na produção. Não por acaso, ele é responsável por cerca de 40% da produção industrial do estado.

Embora a indústria tenha sido o primeiro segmento da economia brasileira a sentir os efeitos da crise financeira mundial, com redução brusca dos empréstimos bancários e das exportações, a atividade praticamente manteve o mesmo ritmo no município catarinense, que ostenta um Produto Interno Bruto (PIB) per capita anual superior a R$ 36 mil. "A crise afetou pouco as empresas da cidade", assinala o presidente da Associação Empresarial de Jaraguá do Sul (Acijs), Guido Jackson Bretzke. "A maioria das indústrias continua funcionando a pleno vapor", reforça.

"Aqui não costumamos aplicar no virtual e sim do real", emenda o diretor de Planejamento da prefeitura do município, Lauro Stoinski, alfinetando os empresários que trocaram a produção pela especulação financeira. Os investimentos das empresas locais, ressalta, sempre foram "o principal anticorpo da cidade para a crise." Mesmo assim, Jaraguá do Sul teve que ajustar seu parque industrial à nova realidade econômica global. Afinal, os ventos que sopraram dos Estados Unidos no segundo semestre do ano passado se espalharam por todo o mundo.

Em Jaraguá do Sul, onde estão instaladas marcas conhecidas nos mercados nacional e internacional, como WEG, Malwee e Marisol, a readequação obrigou algumas plantas industriais a passar a produzir um pouco menos. Em alguns casos, segundo Bretzke, a queda das vendas chegou a ser considerada positiva. "Havia [na cidade] indústrias trabalhando numa margem muito próxima à capacidade máxima de produção e a diminuição da demanda resultou num equilíbrio maior em relação à oferta", lembra o presidente da Acijs.

Nada, porém, que representasse risco aos compromissos assumidos anteriormente com seus clientes. Para dar conta das encomendas, empresas concorrentes se ajudaram e adotaram até mesmo estratégias conjuntas como empréstimos de matérias-primas ou parcerias. Além de mostrar o dinamismo empresarial desse município encravado no Vale do Itapocu, essas iniciativas também impediram que ele fosse contaminado pela onda de pessimismo que tomou conta de boa parte do setor produtivo.

Graças a isso, Jaraguá – palavra de origem tupi-guarani que significa Senhor do Vale – tem empresas com previsão de crescimento em plena crise. Um exemplo é a Duas Rodas Industrial, que produz matérias-primas, como aromas, essências e flocos de frutas. A indústria teve aumento de 11,3% no faturamento em 2008 e prevê crescimento de 8% neste ano. "A crise nos atingiu pouco, porque o ramo de alimentos é o último a entrar nela e o primeiro a sair", diz seu diretor administrativo-financeiro, Jairo Becker.

Com 1.350 empregados, dos quais 1.200 na unidade de Jaraguá do Sul, a Duas Rodas Industrial também serve para ilustrar outra decisão dos empresários desse município rodeado por morros e pontuado por nascentes de água: demissão, só em último caso. "Nossa última opção é reduzir a mão-de-obra, porque ela é treinada e resultante do alto grau de investimento", afirma o executivo da indústria de alimento.

Acostumadas a mirar seus negócios no comércio exterior, as indústrias da cidade catarinense não demoraram em perceber que era preciso olhar mais para o mercado interno. "A entrada das classes C e D na faixa de consumo contribuiu para amenizar os efeitos da crise nessas empresas", acentua o presidente da Associação Empresarial de Jaraguá do Sul. "As vendas para o mercado interno acabaram compensando as perdas”, observa Bretzke.

No entanto, a busca de alternativas para vencer as dificuldades não conseguiu evitar que alguns segmentos da indústria de Jaraguá do Sul enfrentassem situações adversas. O setor metalúrgico, por exemplo, atravessa um período de maior ajuste. O sindicato da categoria contabiliza, em todo a cadeia produtiva, 1.069 demissões entre janeiro e fevereiro e a expectativa é que essa tendência continue em março.

A WEG, fabricante de motores elétricos e uma das maiores multinacionais brasileiras, foi a empresa que mais demitiu na cidade. Dos seus 20 mil empregados, 14 mil trabalham nas duas unidades da WEG em Jaraguá do Sul. "A crise foi sentida, mas apesar dela prevemos um crescimento de 15% em 2009", informa o presidente da WEG, Harry Schmelzer.

A solução encontrada pela WEG é a diversificação dos segmentos. "Algumas áreas sentiram os efeitos da crise, mas outras estão superaquecidas. Enquanto o setor seriado (eletrodomésticos) sofreu os efeitos maiores, o de equipamentos de grande porte, feitos sempre sob medida, está mais forte e sentindo menos a crise", explica Schmelzer.

Grande empresa do setor têxtil, a Malwee registrou uma queda de 20% na produção em novembro e dezembro passado, mas conseguiu manter os empregos. "A crise nos preocupa, principalmente depois de termos sido tão prejudicados pela concorrência dos produtos chineses", reclama o gerente de marketing da Malwee, Wilmar Raboch.

A readequação da indústria de Jaraguá não deverá, entretanto, ter grandes reflexos nos cofres do município no curto prazo. "A receita não foi afetada. Se compararmos a receita líquida do primeiro bimestre de 2009 com a de 2008, veremos que houve superávit de 5,5%, apesar de o governo ter diminuído a carga tributária", destaca o diretor de Planejamento da prefeitura. "Nossas contas estão perfeitamente equilibradas até abril", garante Stoinski.

Agência Brasil

Publicado em 20/03/2009 -

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