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Na tarde desta quarta-feira, 8 de fevereiro, foi realizado na Câmara de Vereadores de Florianópolis um ato em solidariedade às vereadoras catarinenses ofendidas e ameaçadas de forma violenta e absurda. A organização foi do Movimento Humaniza Santa Catarina e contou com o apoio das mais diversas entidades do movimento social. A FECESC esteve representada pelos diretores da Executiva e também por dirigentes do Sindicato dos Comerciários de Florianópolis e do SEEF.

Nas últimas semanas, as vereadoras Maria Tereza Capra (PT) de São Miguel do Oeste, Ana Lúcia Martins (PT) de Joinville, Carla Ayres (PT) de Florianópolis, Giovana Mondardo (PCdoB) de Criciúma e Marlina de Oliveira (PT) de Brusque, receberam e-mails com ameaças e ofensas racistas, misóginas e lesbofóbicas. O encontro também foi uma resposta à cassação do mandato da vereadora Maria Tereza Capra, ocorrido na madrugada do último sábado (4) pela Câmara Municipal de São Miguel do Oeste, sob o argumento de que ela teria ofendido os cidadãos daquela cidade, após ter denunciado supostos gestos nazistas numa manifestação golpista.

Na data que marca o primeiro mês em que atos antidemocráticos ocorreram nos prédios dos Três Poderes, em Brasília, a capital de Santa Catarina foi palco de uma iniciativa histórica em defesa da democracia. As vereadoras se reuniram no Plenarinho da Câmara Municipal de Florianópolis, onde expressaram sua preocupação, relataram as ameaças constantes que têm recebido e denunciaram a perseguição sofrida por Maria Tereza Capra. As parlamentares registraram boletins de ocorrência e acionaram órgãos municipais, estaduais e federais, no sentido de assegurar a sua segurança e o livre exercício de seus mandatos.

O evento também contou a participação da ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, que destacou a gravidade das ameaças sofridas pelas vereadoras e afirmou que planeja vir em breve à Santa Catarina, para construir estratégias de enfrentamento à violência política de gênero enfrentada pelas parlamentares. “Precisamos enfrentar o discurso daqueles que acreditam que as mulheres não podem ocupar os parlamentos ou nos espaços de poder”, pontuou a ministra.

Em sua fala, Ideli Salvatti ressaltou a importância de garantir a segurança de todas as vereadoras ameaçadas e exigiu das instituições que sejam tomadas providências no sentido de identificar e punir os agressores e para que as parlamentares tenham seus direitos assegurados. Ideli também afirmou que “a violência política tem gênero, raça, orientação sexual e preferência geracional, não à toa, o perfil das mulheres ameaçadas na última semana em Santa Catarina”.

Para Carla Ayres, a luta contra a violência política é também uma luta em defesa da democracia e, portanto, um dever de todas as pessoas que ocupam cargos nas diferentes esferas de poder. “A história não pode ser apagada. Não fosse a democracia, mesmo aqueles que ideologicamente divergem de nossa posição dentro dos parlamentos, possivelmente sequer estariam nesses espaços”, considerou a vereadora.

Maria Tereza Capra afirmou que vai lutar até a última instância para reaver o seu mandato na cidade de São Miguel do Oeste. Sobre as ameaças recebidas, ela afirma que todas as parlamentares precisam sim de segurança, pois temem pelas suas vidas: “Não fosse pelos movimentos e companheiras que estão lutando ao nosso lado, eu dificilmente chegaria até aqui, porque tivemos problemas até nos registros que fizemos junto às autoridades”.

Ana Lúcia Martins lembrou a violência histórica sofrida pelas minorias no Brasil e destacou que essa violência vem crescendo ao passo em que essas representações são ampliadas nos espaços de poder. “O que eles querem é nos desumanizar, tentam dizer que não somos sujeitas capazes de ocupar esses espaços. Nós sentimos medo sim, porque diante das ameaças esse medo é natural, mas nós não desistimos. Não chegamos nesses espaços por um projeto individual, mas por uma transformação social que está em curso”.

Giovana Mondardo apontou o crescimento das células nazistas em Santa Catarina e a ameaça que esses grupos neofascistas representam para a democracia. “Nós não queremos ter que depender de escolta policial para fazer nosso trabalho, o que nós queremos é ter liberdade de exercer nossos mandatos de forma democrática, porque fomos eleitas para isso”.

Marlina Oliveira relembrou o fato de também ter um processo de cassação contra o seu mandato na Câmara Municipal de Brusque, pelo fato de exercer o seu trabalho de fiscalização na cidade. “Eu gostaria de estar aqui, nesta tarde, para discutir os rumos que nossas cidades irão tomar a partir de agora, mas infelizmente precisamos estar aqui para tratar da violência política de raça e de gênero que atravessa a todas nós. Os espaços políticos sempre foram hostis para as mulheres”. Ela também alertou para o fato de que não pode pensar exclusivamente em alternativas para os problemas da cidade, porque sempre precisou também se preocupar com a própria segurança.

O ato foi encerrado com a fala da deputada Luciane Carminatti, que prestou solidariedade às vereadoras e afirmou que a violência política de gênero também se reflete na perseguição e punição de mulheres por motivos banais nos parlamentos, enquanto muitos homens, alvos de processos por crimes gravíssimos, sequer são advertidos por seus pares nos parlamentos.

O ato do Humaniza Santa Catarina também contou a presença do deputado estadual Neodi Saretta (PT); das vereadoras Cíntia da Mandata Bem Viver (PSol), Tânia Ramos (PSol) e do vereador Afrânio Boppré (PSol) de Florianópolis; do vereador Eduardo Zanatta (PT) Balneário Camboriú.

 

*Editado a partir de texto divulgado pelo movimento Humaniza Santa Catarina, com fotos de Pricila Baade e Eva Fernandes

Publicado em 9/02/2023 - Tags: , ,

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