Estadão assume apoio a Serra. E agora, José?
28/09/2010
Declaração de voto ao tucano provoca perguntas sobre o passado e o futuro do jornal paulistano No domingo (26), o jornal O Estado de S.Paulo (Estadão) assume em seu editorial que apóia o candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra e assume que a decisão traz consigo uma responsabilidade pesada. Talvez, porém, a tonelagem tenha sido mal calculada. (Leia a íntegra do editorial do Estadão) Sob o título de "O mal a evitar", a confirmação preferencial pelo tucano, que de resto já era claramente notada em sua cobertura jornalística, é feita por um texto carregado de ressentimento, provavelmente levado ao máximo pelas pesquisas eleitorais, que demonstram franco favoritismo de Dilma Rousseff, e pelas recentes respostas de Lula à onda de denuncismo que recheou os principais veículos de comunicação do país nas últimas semanas, com o Estadão entre seus representantes mais ferrenhos. O editorial se vangloria de ter provocado a ira presidencial, classifica Lula de embusteiro e de chefe de facção, entre outras (des)qualificações e mostra que enxerga na iminente eleição de Dilma Rousseff uma clara ameaça às liberdades institucionais – novamente a tática já usada (e derrotada) em 2002, quando o mesmo Serra disputou o Planalto contra Lula. Pois bem, além de provavelmente não alterar em nada o presente quadro eleitoral presidencial, a opção desperta indagações importantes quanto ao passado e ao futuro do Estadão. Em relação ao passado, as primeiras questões que se levantam são: o jornal se alinha ao PSDB e a tudo que o partido representa desde quando? Esse alinhamento explicaria por que nestas eleições o Estadão jamais se moveu com a mesma tenacidade dedicada às denúncias que poderiam abalar a candidatura petista para apurar denúncias e suspeitas que envolvessem tucanos e aliados – como a corrupção assumida e declarada no Mato Grosso do Sul entre deputados estaduais, Ministério Público, Judiciário e o governador André Puccinelli, aliado de Serra naquele Estado, só para citar a mais recente delas? Por essa escolha é que o Estadão insiste na versão de que Dilma Rousseff é uma candidata inventada por Lula, para "segurar o lugar do chefão e garantir o bem-estar da companheirada", como diz o rancoroso editorial, sem jamais documentar que a candidatura Dilma foi submetida à aprovação de praticamente todos as instâncias de decisão do PT, inclusive em convenções estaduais, com a própria tendo passado por processos internos de votação? Ou seja, exercendo plenamente os ditames de uma democracia, ao mesmo tempo em que a oposição – com suporte da grande mídia – foi obrigada a esperar pela decisão autoritária e egoísta de José Serra, cuja empáfia quase provoca a ruptura do partido com o grupo liderado por Aécio Neves, o que poderia ter antecipado...