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A força policial desproporcional com que os trabalhadores foram recebidos na capital federal no dia 24 de maio é uma amostra do governo tirano que temos que combater

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Por: Sandra Werle – Assessoria de comunicação da FECESC

Trabalhadores de todos os cantos do Brasil empreenderam viagem para se encontrarem em Brasília, capital federal, no dia 24 de maio, para realizar aquele que pode ser considerado o maior protesto da história, o #OcupaBrasília. Chamada pelas centrais sindicais, a manifestação foi contra a reforma da Previdência e reforma trabalhista, que retiram direitos dos trabalhadores; pelo Fora Temer e por eleições diretas. As avaliações variam entre 150 mil a 200 mil pessoas presentes e, entre elas, a maior delegação de dirigentes da Federação dos Trabalhadores no Comércio de Santa Catarina – FECESC e dos sindicatos de trabalhadores no comércio e serviços de todo o estado, que se somaram à comitiva catarinense formada por 41 ônibus.

Os trabalhadores catarinenses saíram do estado ainda na segunda-feira, dia 22, para percorrem os quase 2.000km e estarem presentes ao ato no dia 24, quarta-feira. No caminho, expectativa, vontade de lutar e de ajudar a construir um movimento capaz de, principalmente, derrubar o governo golpista de Temer. Estávamos no ônibus que partiu de Araranguá às 17h do dia 23 e passou por Tubarão, Imbituba, Laguna, Florianópolis, Itapema, Itajaí/Balneário Camboriú e Jaraguá do Sul, completando ali a lotação de 44 dirigentes da FECESC e sindicatos mais assessorias. Outro ônibus da FECESC saiu de Curitibanos, região central do estado, e dirigentes da região Oeste e Extremo Oeste compuseram comitiva com dirigentes de outras categorias.

Depois de duas noites e um dia na estrada, nossa primeira parada em Brasília foi no Clube dos Comerciários, área disponibilizada pelo Sindicato dos Comerciários do Distrito Federal para comerciários de todo o país. Cerca de 400 homens e mulheres, vindos todos de ônibus, 72h, 48h, 24h de viagem. Barracas, colchões pelo chão, café da manhã solidário e filas para um banho frio compuseram o roteiro da manhã. Depois do almoço improvisado, percorremos os 30Km até o centro de Brasília, rumo ao estádio Mané Garrincha, onde estava marcada a concentração.

Antes de chegarmos ao estádio, o ônibus encontrou o engarrafamento e já pudemos ver a passeata se formando. Milhares e milhares tomavam a rua rumo ao Congresso e nosso primeiro grande impacto foi ver aquela multidão e estar confinados no trânsito. Um pouco de paciência e conseguimos descer para uma caminhada solitária do pequeno grupo que finalmente se juntou aos milhares que entoavam suas/nossas palavras de ordem. Foi um momento de grande emoção para todos: nossa chegada à luta comum àquela multidão de brasileiros de todos os jeitos, de todas as cores, de todos os credos, reunidos num mesmo ideal.

Mal havíamos chegado aos primeiros prédios da esplanada dos ministérios, ainda na rua lateral, antes de ocuparmos o grande gramado, já ouvimos os primeiros sons das bombas. Olhando para trás, nosso olhar não alcançava o final da passeata; olhando à frente, não conseguíamos visualizar o pelotão da frente e nem mesmo entender o porquê daquele som. Então começaram a chegar, do pessoal lá na frente, as notícias do grande aparato policial que nos aguardava.

O povo brasileiro estava sendo recebido por bombas de gás, tiros de borracha, um forte aparato policial nada amistoso em resposta a uma mobilização, até aquele momento, pacífica. A reação então se dividiu entre os mais aflitos e temerosos pela nossa segurança e os revoltados por aquela recepção desmedida, ordenada pelo presidente golpista.

Dos diversos carros de som que compunham a passeata começaram a se ouvir os avisos para pararmos, os chamados pelos bombeiros e ambulâncias. A medida que avançávamos, agora mais devagar, começamos a dar de encontro com a leva de pessoas que voltavam, correndo, com camisetas e lenços na cara, com máscaras os mais prevenidos. Nossa delegação não estava preparada. Da solidariedade e preocupação em nossa volta vinham os conselhos: “não corra”, “proteja o rosto, não esfregue”, “use vinagre, você tem vinagre?” e, a essa altura, o efeito do gás já era sentido, trazido inicialmente pelo vento. Até a hora em que os lançamentos das bombas pela polícia já chegaram ao ponto onde nos encontrávamos. De cima, vários helicópteros revoavam em círculo, se colocavam em prontidão, ameaçadores.

Naquele momento, lá no gramado, não tínhamos ainda a notícia de que a violência tinha se originado de um decreto presidencial autorizando o uso das Forças Armadas para a “garantia da lei e da ordem no Distrito Federal”. Para o presidente da FECESC, Francisco Alano, que estava na comitiva e na passeata, a violência da polícia, jogando bombas e balas de borracha nos manifestantes, é típica de um governo ditatorial, “mas ela não derruba nossa luta; foi muita emoção e muito orgulho da nossa galera de Santa Catarina que marchou junto com os milhares de manifestantes depois de 30 horas de viagem.”

O movimento que chegou pacífico e foi recebido à bala – depois do término da manifestação nos chegou pela imprensa alternativa notícias de que munição real, não de borracha, também foi disparada e muita força policial usada inclusive contra mulheres e idosos – e a violência acirrou muitos ânimos. A manifestação se transformou num cenário de guerra, todos tentávamos nos proteger da maneira possível.

Mesmo depois da dispersão promovida pela polícia, ainda éramos muitos, milhares e milhares, e nossa volta ao Mané Garrincha onde uma grande frota de ônibus nos esperava, se transformou novamente numa grande passeata, onde os gritos de “Fora Tener” e “Diretas Já” pareceram ganhar um novo vigor.

Voltamos todos com muitos sentimentos misturados. Na quinta-feira, enquanto o ônibus nos levava pela estrada de volta ao Sul, foi feita uma avaliação, onde muitos usaram a palavra para falar da sua experiência naquela viagem. Orgulho, vontade de lutar, dever cumprido, povo guerreiro, opção pela luta foram as expressões mais usadas. Estávamos todos, ali, sacrificando horas de trabalho, abdicando de deveres familiares, optando pelo cansaço físico. Mas estávamos todos nos sentindo fortes e unidos, fazendo a luta que acreditamos necessária pelo país que queremos. “Foi só uma das muitas lutas que teremos, até a derrubada deste projeto que quer destituir os trabalhadores e acabar com o Brasil”, resumiu o assessor da FECESC Maurício Mulinari. E os comerciários e prestadores de serviços estarão ali, junto com toda a classe trabalhadora que não foge à luta.

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Participante de Balneário Camboriú (à esquerda)

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Executiva da FECESC

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Delegação de Tubarão

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Delegação de São José

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Delegação de Palhoça

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Dirigentes e assessoria da FECESC

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Delegação de Jaraguá do Sul

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Delegação de Curitibanos

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Delegação de Canoinhas

Ônibus que percorreu o litoral

Ônibus que percorreu o litoral

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