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Neste dia 5 de dezembro aconteceu um ato público com milhares de pessoas de toda a região e do estado de Santa Catarina, em defesa da vida, da democracia e da justiça. No dia 28 de novembro, o vereador Marcelino Chiarello, 42 anos, do PT de Chapecó, foi brutalmente assassinado em sua própria casa. Como líder da oposição, Chiarello denunciou casos de desvio de recursos públicos no município. Ele estava recebendo ameaças e temia por sua família.

 

A região oeste de Santa Catarina é conhecida pelas lutas dos movimentos sociais, principalmente aqueles ligados as questões do campo. Esta região se inclui como um dos berços dos sem-terra, da organização das mulheres camponesas, do movimento dos pequenos agricultores e da agricultura familiar, dos indígenas e dos atingidos por barragens, dentre outros. Como se diz na academia é uma região com um capital social elevado.

Essa trajetória de lutas teve como principal articuladora a igreja católica, com base nas propostas da teologia da libertação desde a década de 1970 e como principal protagonista e animador o bispo Dom José Gomes, que chegou a ser ameaçado de morte, nos anos 80, pela sua coragem e determinação em defesa dos pobres.

Muitas lideranças de esquerda de Santa Catarina, e atuantes nacionalmente, se formaram nesse contexto, tanto no PT como nos movimentos sociais. A cidade de Chapecó é o principal centro da região, de onde se articulam essas lutas e lideranças.

O PT venceu as eleições para prefeito de Chapecó em 1996, com José Fritsch, que se reelegeu e depois foi candidato a governador do estado de Santa Catarina, em 2002, com a maior votação que o partido já atingiu para esse cargo. Depois ele foi ministro e agora é o presidente estadual do PT.

Claudio Vignatti foi vereador em Chapecó, se elegeu e reelegeu para deputado federal, foi presidente da Comissão de Finanças da Câmara em 2009 e no último pleito foi candidato ao senado, obtendo a maior votação que o PT já atingiu para o cargo no estado.

O atual presidente do PT de Chapecó, Pedro Uczai, é deputado federal, já foi vice-prefeito, prefeito, deputado estadual e presidente estadual do PT de Santa Catarina.

É nesse contexto que militava o jovem Marcelino Chiarello, atualmente com 42 anos de idade. Igual a tantas outras lideranças, Marcelino foi seminarista da diocese de Chapecó, portanto, bebeu do espírito de Dom José Gomes, depois passou a atuar como professor de filosofia na rede pública estadual e ocupou alguns cargos no governo petista do município, chegando a ser o coordenador do Orçamento Participativo do município no último período de governo.

Marcelino Chiarello foi candidato a vereador pela primeira vez em 2004, quando se elegeu como representante da base eleitoral de Claudio Vignatti, que havia sido eleito deputado federal e que naquele ano fora também candidato a prefeito da cidade. O PT, que governara o município de Chapecó por oito anos, perdeu as eleições em 2004 para o candidato do PFL, que espalhou o ódio contra o PT na cidade.

Chiarello elegeu-se vereador pelo PT, que passou a ser oposição, juntamente com outro colega que mudou de partido em seguida, assim, ele manteve-se o único vereador do PT na cidade até 2008.

Nas eleições de 2008, Marcelino Chiarello se reelegeu vereador, juntamente com Luciane Carminatti. Esta concorreu para deputada estadual em 2010, se elegeu e foi substituída pela vereadora Dra. Angela Vitória, que junto com Marcelino formava a dupla de oposição ao prefeito de Chapecó, agora no PSD.

Em sete anos de mandato, como vereador de oposição, Marcelino Chiarello foi reconhecidamente o líder político de oposição que mais fez enfrentamentos e denúncias de corrupção e desvios de finalidades das ações públicas do governo municipal de Chapecó, primeiramente contra o Prefeito João Rodrigues (PFL-DEM), depois seu vice e atual Prefeito José Claudio Caramori (PSD).

Recentemente, com base nas denúncias de Chiarello, o Ministério Público afastou, pela segunda vez, do cargo de secretário regional da Prefeitura de Chapecó, o vereador do PSD Dalmir Pelicioli, comprovando desvio de recursos de subvenções sociais do governo do estado para entidades comunitárias do município; determinou a abertura de licitação para o transporte coletivo urbano (impedindo uma renovação automática da concessão por mais 20 anos); e denunciou irregularidades na construção de uma barragem na foz do Rio Chapecó.

No último dia 28 de novembro, segunda-feira, por volta de meio dia, sua esposa, ao chegar do trabalho encontrou-o enforcado na sua própria casa. Duas horas depois um dos delegados de polícia declarou que se tratava de assassinato.

A colega vereadora e o presidente do PT declararam que o companheiro Marcelino havia comentado que estava com medo, que queria renunciar ao mandato e que temia pela segurança de sua família, mas não deu tempo de acionar o pedido de proteção policial, pois, no primeiro dia da semana, por volta de 10h da manhã, enquanto trabalhava em sua sala de aula, lecionando a disciplina de filosofia, recebeu algumas chamadas no seu celular, saiu da escola e foi para casa, pediu ao filho de 10 anos para sair do quarto e correr para a casa da avó. Uma hora mais tarde sua esposa e sogra o encontraram morto, espancado e pendurado pelo lado interno da janela do quarto do filho. A causa morte foi traumatismo crânio-encefálico e asfixia mecânica, segundo o médio legista Antonio Moraes, que assinou o laudo.

Um crime bárbaro, frio e premeditado, muito estranho nos tempo de democracia que se gostaria de viver, mas infelizmente o professor, vereador e companheiro Marcelino Chiarello deu sua vida pela defesa da ética na política, combatendo a corrupção, denunciando falcatruas e desvios de conduta pública. Marcelino foi um exemplo de ética e coragem.

O PT, o sindicato dos professores, a igreja católica, os estudantes e a comunidade regional e do estado de Santa Catarina, continuam muito chocados com mais essa afronta a vida humana, essa barbaridade e esse que se trata de um dos mais covardes e dos piores crimes políticos da história deste estado.

Agora, o que nos resta é exigir justiça, rápida e exemplar, porque a vida de Marcelino Chiarello não poderá ter sido em vão, sua voz não será calada, mas multiplicada em milhões de outras vozes e gritos por justiça, pela ética na política, pela honestidade e em defesa da vida. Pede-se a todas as pessoas que defendem a vida e os direitos humanos que ajude a denunciar, gritar e pressionar por justiça, aqui, neste estado, neste Brasil e no mundo inteiro.

Neste dia 5 de dezembro aconteceu um ato público com milhares de pessoas de toda a região e do estado de Santa Catarina, em defesa da vida, da democracia e da justiça.

Autor: José Roberto Paludo – Secretário Geral do PT de Santa Catarina

Publicado em 6/12/2011 -

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