Transparência e democracia participativa contra a corrupção
13/11/2014
A questão “corrupção” foi o prato comercial (trivial simples) da última eleição para a Presidência. Este sempre foi o assunto preferido pela direita mais reacionária – aliás, 50 anos depois, ainda nos parecia ouvir os ecos dos nitridos de Jânio Quadros, Carlos Lacerda, militares, Senhoras Católicas e toda a corja que articulou e desencadeou o golpe contra o presidente (e estadista) João Goulart. Deu no que deu: descartados pela Sorbone com o Ato Institucional Número 5 (AI-5), os senhores Jânio, Lacerda e outros tantos foram cassados por corrupção, e tratados como lixo pelo novo regime no pós-1968. Afastados pelas vestais verde-oliva, abria-se assim o espaço para que estas se locupletassem sem velhos concorrentes, num período em que a corrupção atingiu níveis nunca antes sequer imaginados. Para termos apenas uma pequena noção do que aconteceu, lembramos o episódio em que empresários franceses que investiam ou pretendiam investir no Brasil, durante o governo do general Ernesto Geisel, reclamaram contra o aumento da caixinha do então embaixador do Brasil em Paris, que passara a cobrar 20% do valor total de cada projeto, para que os aprovasse. De acordo com os franceses, isto significava o dobro do que era cobrado normalmente (!!!) no mercado. A nossa sede diplomática na França passou a ser conhecida na Europa e em outras partes do mundo, como “A Embaixada dos 20 Por Cento”. Quem quiser se informar com mais detalhes, profundidade e extensão sobre a corrupção durante o regime civil-militar do pós-1964, sugerimos que pesquise – principalmente, entre outras – as edições dos jornais Movimento e Em Tempo, publicados por correntes da esquerda socialista da resistência contra a ditadura. Aliás, este poderia ser um bom tema para trabalhos de conclusão de cursos, dissertações e teses universitárias. É compreensível (e previsível) que alguns reitores não se sintam muito à vontade com esse tipo de assunto, e prefiram continuar gastando o dinheiro público em trabalhos mais bizarros, com títulos do tipo “Cartografia da solidão – Estudo de caso: Eu” e outros tantos. É fundamental também não esquecermos que foram os militares e civis que organizaram o monopólio do crime organizado no Brasil – quem tiver dúvidas, sugerimos a leitura dos depoimentos do delegado do DOPS capixaba Cláudio Guerra, no livro Memórias de uma guerra suja, dos jornalistas Rogério Medeiros e Marcelo Netto (Editora Topbooks, 2012). Mas se a hipocrisia militar não teve e se mantém sem limites, seus sucessores seguem o mesmo caminho. O ex-presidente José Sarney – o Beletrista, não nos deixa mentir: comprou – com dinheiro público – um antigo convento em São Luís, incorporou o prédio histórico ao seu patrimônio e lá funciona o seu Memorial, onde já tem até...