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Falar mal do Brasil virou esporte predileto de muitos no Brasil e no mundo. A mídia internacional fala mal do Brasil e tudo que venha dele, nunca se criticou tanto o país nas redes sociais quanto agora. Alguns brasileiros, considerados “celebridades”, com amplo espaço na mídia mundial, desancam o país à vontade. Na mídia mundial, principalmente em alguns países europeus, há uma verdadeira campanha contra o Brasil. Preferido da grande imprensa mundial e dos investidores, há alguns anos atrás, o Brasil passou à condição de país em que nada funciona, tudo é ruim e precário, campeão da corrupção e da violência, sem nenhuma preocupação pelo meio-ambiente e com os pobres. O que se lê nas abordagens, muitas vezes, é um amontado de bobagens, de desinformação, de grosseria e desprezo. Conforme alguém já falou, a opinião pública foi sequestrada por uma espécie de “denuncismo conservador”.

 

Os exemplos são inúmeros, mas pode-se ilustrar com o tratamento dado à Copa do Mundo, dentro e fora do país. É acontecimento desejado, raro e histórico, perseguido por todos os países. Estudos internacionais indicam que eventos da magnitude da Copa do Mundo proporcionam ganhos enormes, como o aumento da autoestima da população e da imagem do país no exterior, o que pode representar, nos anos seguintes à realização, grande aumento do afluxo de turistas, maior atração de investimentos estrangeiros e expansão da visibilidade internacional. Ao invés de destacar o óbvio, os críticos transformaram esta conquista histórica do Brasil num acontecimento negativo e pernicioso para o país.

 

Não se trata de querer impedir críticas ao país e/ou governos, que são inerentes à democracia. Mas, no sistema democrático, um princípio elementar é o direito ao contraditório na veiculação da notícia. Este processo de ataques sistemáticos ao Brasil, vindo de vários setores, levou claramente, a um distanciamento entre os indicadores econômicos e sociais objetivos, e a percepção da sociedade. Nunca se criticou tanto o Brasil e sua economia, o que é surpreendente, num momento em que os indicadores, possivelmente, sejam os melhores da história. Este distanciamento, que não é casual, é gravíssimo, na medida em que pode induzir os diferentes atores sociais a estratégias equivocadas, por estarem baseadas em informações erradas.

 

O pessimismo dominante em alguns meios não encontra guarida nas informações econômicas objetivas. Por exemplo, se, de fato, a taxa média de crescimento do PIB dos últimos anos (2%), realmente é baixa, a informação deve ser contextualizada. Porque a maior crise do capitalismo nos últimos 80 anos pouparia o crescimento da sétima economia do mundo? O resultado do PIB de 2013 (2,3%), foi baixo, mas ficou acima das expectativas da maioria dos analistas e, no G-20, foi o 9º maior crescimento, superior aos EUA (1,9%), Zona do Euro (-0,4%), Japão (1,6%), Alemanha (0,4%),Rússia (1,3%), e México (o atual “país modelo” dos investidores, 1,1%). Além disso, 2% a 3% de crescimento de PIB ao ano é razoável se você tem a menor taxa de desemprego da história e se a renda das famílias está aumentando.

 

Será que vai tão mal assim uma economia em que o consumo das famílias sobe, ininterruptamente, durante 120 meses seguidos, como constatou o IBGE nos dados das contas nacionais de 2013? Este processo explica, inclusive, a pressão sobre a inflação, ou seja, em parte, a pressão inflacionária decorre uma virtude da política econômica brasileira: a mudança da estrutura de distribuição de renda e a inclusão de milhões de brasileiros, nos últimos anos, no processo de consumo.

 

Em 2013, só um país cresceu mais a agricultura que o Brasil no G-20: os EUA (16,4%). A agricultura brasileira cresceu 7%. Vários países, inclusive, viram a sua agricultura decrescer como Coréia do Sul, Alemanha, França, Rússia e o Reino Unido (-4,1). Já pensou se Brasil a agricultura tivesse retraído em 2013 como ocorreu nos países mencionados? O mundo viria abaixo. Enquanto o mundo se desmancha no desemprego (a Europa tem 26 milhões de desempregados), entre 2008 e 2013, o Brasil gerou 11 milhões de empregos formais, reduzindo a taxa de desemprego e aumentando fortemente a formalização. Pela medição do IBGE a taxa de desemprego em abril caiu para 4,9%, o menor índice da série histórica para esta época do ano. A média salarial do país, embora ainda seja baixa, chegou a dois salários mínimos, o que significou uma expressiva mudança na inserção social e econômica de milhões de pessoas.

 

Dentre outras razões, é este crescimento do emprego que tem possibilitado a redução da pobreza no país. Entre 2003 e 2012, enquanto o PIB do país cresceu 40%, a renda dos 10% mais pobres aumentou 206% graças às políticas sociais desenvolvidas. O PIB cresce a 2% mas se isso melhora a vida do povo, é o mais importante. Em boa parte tem contribuído para isso o salário mínimo, que nos últimos 10 anos teve ganho real acima 3 de 70%. Isso não significa nada pra quem ganha 10 salários mínimos, mas é espetacular para quem está na base da pirâmide social.

 

Por que essa tão grande diferença entre a percepção da população e os dados objetivos da economia? Do ponto de vista mais imediato há muita desinformação e superficialidade. Mas o processo eleitoral brasileiro é de grande interesse no mundo, não só aqui dentro do país. Além disso, o ataque sistemático que a Petrobras vem sofrendo, por exemplo, não decorre apenas da disputa eleitoral deste ano, mas tem também um aspecto de disputa comercial muito grave, onde simplesmente o inimigo são as gigantes internacionais do petróleo. De certa forma, os ataques contra o Brasil vindos da mídia internacional, e dos analistas localizados nos países dominantes e no interior do país, é uma espécie de recado velado: “ponha-se no seu lugar de país periférico e dependente”.

 

*Economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina

Autor: José Álvaro de Lima Cardoso*

Publicado em 4/06/2014 -

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