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 As boas notícias na economia brasileira continuam prevalecendo. Segundo informações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgada no sétimo levantamento da safra de grãos, o Brasil irá realizar uma colheita recorde na safra 2009/2010, com elevação de 8,3% em relação à anterior, chegando a 146,31 milhões de toneladas. Um recorde histórico. Segundo a Conab, as razões principais deste resultado são a queda dos preços dos insumos, o aumento da área plantada de soja, o clima favorável ao desenvolvimento das lavouras e o forte crescimento da produção de milho de inverno. Em boa parte o recorde se deve à soja, cujo montante previsto, 67,3 milhões de toneladas, é 17,9% superior ao ciclo 2008/09 e 12,3% maior que a produção em

2007/08, até então a maior da história do Brasil.

A super safra brasileira de grãos é especialmente bem vinda neste momento em que a inflação volta a ser motivo de preocupação geral entre os economistas. Segundo o Índice de Custo de Vida (ICV) calculado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócios Econômicos (DIEESE), entre janeiro e março deste ano, a inflação acumulada é de 2,81%, sendo maior para as famílias de renda mais baixa. Para uma inflação acumulada no trimestre de 2,81%, o item Alimentação, que pesa mais para as famílias mais pobres, aumentou 4,10%. Neste cenário, a expectativa é que a expansão da oferta de grãos, anunciada pela Conab, nos próximos meses atue como um antídoto eficaz contra o aumento dos preços dos alimentos, muito influenciado pela reduzida oferta de chuva em algumas regiões, ou pelo excesso dela em outras, que acabou dificultando muito a colheita de frutas, verduras e legumes.

O comportamento recente dos preços e a necessidade de atrair capital para financiar parte do déficit externo, tornaram mais do que previsível a elevação dos juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom), na reunião de 27 e 28 de abril. A defesa da elevação dos juros (que subiram para 9,5% ao ano) vinha sendo feita por vários analistas nos dias anteriores à reunião, assim como por parte dos economistas ligados ao setor financeiro, que vêm defendendo uma alta considerável dos juros neste ano, como 2ª condição indispensáveis para o controle da inflação, em face do atual ritmo de crescimento da economia.

O modelo no qual se baseia o Banco Central pressupõe um determinado produto potencial da economia, limitado em certo período de tempo. Tal produto implica em limitações no nível de demanda agregada, que não pode superar o produto potencial, sob pena de elevação da inflação. O problema é que, até o momento, não há informações consistentes de aumento significativo da renda da população, que possa significar uma pressão incontrolável sobre a demanda. Segundo a pesquisa de Emprego e Desemprego do DIEESE, para as Regiões Metropolitanas, nos últimos 12 meses, o rendimento médio real dos ocupados praticamente não variou. Por outro lado, a taxa de investimentos voltou a crescer forte desde o ano passado. No primeiro trimestre de 2010, os desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), atingiram o recorde de R$ 25,5 bilhões, uma expansão de 37% na comparação com o mesmo período de 2009. Em 12 meses até março, os desembolsos do BNDES chegaram a R$ 144,3 bilhões, expansão 53% em relação aos 12 meses anteriores.

Afora isso, o comportamento dos preços neste primeiro trimestre do ano foi causado por aumentos pontuais, de características sazonais (tarifas de ônibus e outras) e por problemas na produção em função do excesso de chuvas (álcool e produtos in natura), como também ficou evidente no comportamento dos preços recentes da cesta básica. É bastante provável que a inflação assuma uma trajetória diferente no restante do ano.

Além disso, o efeito do aumento dos juros sobre a demanda tende a ser muito pequeno, ou mesmo, nulo. No entanto, o impacto do aumento dos juros sobre as contas públicas é garantido: segundo especialistas em finanças públicas, se o BC elevar a Selic a 11,25% ao ano o governo gastará, no mínimo, R$ 13 bilhões a mais em 12 meses.

Autor: José Álvaro de Lima Cardoso – Economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina

Publicado em 7/05/2010 -

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