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Nos últimos dois meses a economia mundial vem passando por fortes e violentas

turbulências nos mercados financeiros, que explicitam uma segunda etapa da crise econômica,

onde uma crise de “solvência” (saúde financeira das empresas, capacidade de cumprirem com os seus compromissos financeiros) passa ao estágio de uma crise generalizada de confiança. Ao longo do ano de 2008, até setembro, a estimativa é de que os ativos (títulos, ações, contratos

financeiros, etc.) existentes no mundo perderam valor em mais de US$ 14 trilhões. A estimativa

de desvalorização em 12 meses é de cerca de US$ 27 trilhões, ou cerca de duas vezes o Produto

Interno Bruto (PIB) dos EUA. No mesmo período, os bancos internacionais registram perdas

contábeis de mais de US$ 500 bilhões.

Sucessivas medidas tomadas para tentar frear os impactos das turbulências se mostraram

insuficientes, inclusive o conjunto de medidas de injeção de cerca de US$ 850 bilhões no

mercado financeiro dos EUA, aprovada pelo Congresso daquele país. Tentativas de coordenação

de medidas pelos principais bancos centrais mundiais (EUA, Banco Central Europeu, Japão,

Inglaterra, Suíça, Canadá, Austrália e outros) se mostraram bastante parciais, e também pouco

eficazes para conter as turbulências nas bolsas, pelo menos até o momento.

Bolsas internacionais registraram com frequência perdas diárias superiores a 5%, sendo

que muitas vezes esses valores de perda operaram no intervalo entre 8% e 10%. No caso

europeu, as limitações de um banco central não vinculado a um Estado Nacional (e, portanto,

sem um orçamento público que lhe permitisse garantir o poder de sua moeda) se evidenciam.

Além disso, os diversos Estados Nacionais europeus acabam privilegiando dar proteção às suas

instituições financeiras, correntistas e investidores nacionais, nas medidas de resposta à crise.

As perspectivas no momento são de uma crise bastante aguda, prolongada, e que deve se

generalizar para a economia real com bastante rapidez, impactando especialmente as áreas

vinculadas ao comércio internacional (fluxos comerciais, mercados de commodities1) e

dependentes de crédito e financiamento. As expectativas são de redução significativa das taxas

de crescimento nos vários países, sendo que em algumas áreas já há fortes indícios de recessão, especialmente nos EUA, Japão, e na área do euro.

No caso da América Latina, é esperada forte redução do crescimento verificado no

período anterior, embora ainda não haja previsões de recessão. Pela gravidade e intensidade da

crise financeira internacional e pela sua capacidade de se espalhar pela economia mundial, não

existe país que possa se considerar blindado em relação aos seus efeitos. Mas alguns aspectos da política econômica e comercial do Brasil fornecem ao país razoável capacidade de

enfrentamento dos efeitos da crise ao nível internacional.

1 Commodities são produtos básicos, homogêneos e de amplo consumo, que podem ser produzidos e negociados por uma ampla gama de empresas. Podem ser produtos agropecuários, minerais, industriais e outros.

Autor: José Álvaro de Lima Cardoso – Economista e Supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina

Publicado em 31/10/2008 -

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