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Redes sociais


A comunicação do dia 30 e a disputa de hegemonia

26/03/2009
A realização de um ato unificado do movimento sindical, social e estudantil contra a crise e as demissões, por si só, já exigiria da imprensa brasileira destaque na sua pauta, seja em reconhecimento à importância e amplitude das entidades envolvidas – um arco de alianças que envolve todas as centrais sindicais, a UNE, o MST – e à complexidade do momento político, onde o impacto negativo da crise internacional se faz sentir internamente na forma de demissões. Mas, como sabemos que para os donos da mídia, que se apropriaram de concessões públicas, o que vale é a virtualidade dos seus patrocinadores – grandes bancos e multinacionais – e não a verdade dos fatos, nunca é demais sublinhar o papel dos instrumentos próprios de que as nossas entidades dispõem para comunicar, estabelecendo um contato mais íntimo com a base, aumentando o grau de mobilização e consciência da classe trabalhadora e dos diversos segmentos sobre as causas reais da crise. Uma vez identificada a fragilidade do inimigo, fica mais fácil derrotá-lo. Na disputa de hegemonia que está colocada contra a lógica dos que submeteram o país à globalização neoliberal, à privatização e à desnacionalização do patrimônio, que durante os anos FHC agravaram o desemprego, o arrocho e a miséria, há os que querem apagar o fogo com gasolina, como o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Blindado pela mídia, Meirelles tenta de todas as formas manter a política de juros altos e elevado superávit primário, que atenta contra os interesses nacionais e se choca com o setor produtivo. O caminho é outro, dissemos nós: é preciso potencializar o papel do Estado, canalizar recursos para as áreas sociais, fortalecer a agricultura familiar, acelerar a reforma agrária e as obras de infraestrutura, valorizar os serviços públicos e os servidores, reduzir a jornada sem reduzir os salários, garantir direitos, ampliar conquistas. É necessário investir no mercado interno os bilhões de dólares esterilizados com o pagamento das taxas de juros mais altas do mundo à meia dúzia de famílias que enriquece especulando com títulos públicos. Dada a importância e a magnitude do confronto, a informação deve ser encarada mais do que como instrumento, como arma. Se para nós ela serve para difundir a verdade, para os nossos inimigos serve para mascará-la. Se para nós representa a possibilidade de nos vermos como agentes da mudança, elevando a auto-estima do nosso povo, demonstrando nossa capacidade de reflexão e ação; para os interesses que patrocinam a grande mídia, ela é mortal. Por isso, tratam de dissimular, manipular ou mentir aberta e descaradamente. Afinal, para eles, é um negócio onde mais do que os anúncios milionários, está em jogo a sua própria sobrevivência. Por isso não somos a manchete...

Os 45 anos do comício da Central do Brasil

16/03/2009
O discurso de João Goulart aniversaria na mesma semana em que a anistia de Maria Thereza Fontela Goulart, viúva do ex-presidente, foi publicada no Diário Oficial e que o general Luiz Cesário da Silveira Filho, ao despedir-se do cargo, exaltou em discurso o golpe militar que depôs Goulart, em 1964. Segundo Silveira, o golpe militar foi um "memorável acontecimento", que pode ser chamado de "revolução democrática de 31 de março de 1964, por ter evitado o golpe preparado pelo governo de então contra as instituições democráticas do país". O “golpe preparado pelo governo” ao qual o saudosista general se refere foi, na verdade, um momento privilegiado das lutas sociais e políticas no Brasil. Na época pré-golpe, amplos setores sociais, no campo e na cidade, lutavam por reformas sociais e econômicas, bem como a ampliação da democracia política. O governo de João Goulart, espécie de porta voz destas reivindicações, perdurou sob o signo do golpe. Se, em agosto de 1961, o ele pôde ser evitado, em abril de 1964 tornou-se dura e concreta realidade. Foi um pouco antes, mas já com os dias contados para acabar, que o governo de João Goulart promoveu um verdadeiro embate político e ideológico no país. Para muitos historiadores, um dos raros momentos de democracia autêntica no Brasil. O movimento estudantil estava no seu auge, assim como o movimento operário se destacava pela autonomia sindical através do Comando Geral dos Trabalhadores, uma espécie de diretório central que organizava greves e reivindicava constantemente a ampliação dos direitos trabalhistas. Nas cidades, o caráter de massa desse sindicalismo crescia juntamente com sua independência e autonomia. No campo, as Ligas Camponesas em Pernambuco, sob o comando do advogado Francisco Julião, fizeram história. Neste cenário, o Comício na Central do Brasil, realizado com o apoio do CGT, foi a gota d’água para as classes dominantes escolherem de que lado ficariam no conflito. Com a promessa de encaminhar ao Congresso projetos de reformas inéditas no país, Goulart radicalizava seu discurso anunciando desapropriações de terras que ladeavam rodovias e ferrovias nacionais e a estatização de refinarias de petróleo. Uma ampla reforma educacional prometia erradicar o analfabetismo e se baseava em experiências pioneiras inspiradas em Paulo Freire, 15% da renda produzida no Brasil seria direcionada à educação. No plano econômico, haveria controle da remessa de lucros das empresas multinacionais para o exterior e o imposto de renda seria proporcional ao lucro pessoal. Qualquer semelhança com algumas das receitas anti-crise vistas na atualidade não é mera coincidência. A reforma eleitoral demandava extensão do direito de voto aos analfabetos e aos militares de baixa patente. Além disso, a desapropriação de terras com mais de 600 hectares e a redistribuição destas à população pelo governo indicava...

A grande mídia e o golpe de 64

16/03/2009
No debate contemporâneo sobre a relação entre história e memória, argumenta-se com propriedade que a história não só é construída pela ação de seres humanos em situações específicas como também por aqueles que escrevem sobre essas ações e dão significado a elas. Sabemos bem disso no Brasil. Ao se aproximar os 45 anos do 1º de abril de 1964 e diante de tentativas recentes de revisar a história da ditadura e reconstruir o seu significado através, inclusive, da criação de um vocabulário novo, é necessário relembrar o papel – para alguns, decisivo – que a grande mídia desempenhou na preparação e sustentação do golpe militar. Referência clássica A participação ativa dos grandes grupos de mídia na derrubada do presidente João Goulart é fato histórico fartamente documentado. Creio que a referência clássica continua sendo a tese de doutorado de René A. Dreifuss (infelizmente, já falecido), defendida no Institute of Latin American Studies da University of Glasgow, na Escócia, em 1980 e publicada pela Editora Vozes sob o título “1964: A Conquista do Estado” (7ª. edição, 2008). Através das centenas de páginas do livro de Dreifuss o leitor interessado poderá conhecer quem foram os conspiradores e reconstruir detalhadamente suas atividades, articuladas e coordenadas por duas instituições, fartamente financiadas por interesses empresariais nacionais e estrangeiros (“o bloco multinacional e associado”): o IBAD, Instituto Brasileiro de Ação Democrática e o IPES, Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais. No que se refere especificamente ao papel dos grupos de mídia, sobressai a ação do GOP, Grupo de Opinião Pública ligado ao IPES e constituído por importantes jornalistas e publicitários. O capítulo VI sobre “a campanha ideológica”, traz ampla lista de livros, folhetos e panfletos publicados pelo IPES e uma relação de jornalistas e colunistas a serviço do golpe em diferentes jornais de todo o país. Além disso, Dreyfuss afirma (p. 233): O IPES conseguiu estabelecer um sincronizado assalto à opinião pública. Através de seu relacionamento especial com os mais importantes jornais, rádios e televisões nacionais, como: os Diários Associados, a Folha de São Paulo, o Estado de São Paulo (…) e também a prestigiosa Rádio Eldorado de São Paulo. Entre os demais participantes da campanha incluíam-se (…) a TV Record e a TV Paulista (…), o Correio do Povo (RS), O Globo, das Organizações Globo (…) que também detinha o controle da influente Rádio Globo de alcance nacional. (…) Outros jornais do país se puseram a serviço do IPES. (…) A Tribuna da Imprensa (Rio), as Notícias Populares (SP). Vale lembrar às gerações mais novas que o poder relativo dos Diários Associados no início dos anos 60 era certamente muito maior do que o das Organizações Globo neste início de século XXI. O principal biógrafo...

Dia da Mulher: com coragem e garra, podemos avançar mais

06/03/2009
A defesa de idéias, projetos e ações que melhorem a vida das mulheres é sempre uma das coisas que mais me apaixona na vida parlamentar. Nestes seis anos como senadora por Santa Catarina, apresentei propostas, ajudei no debate de outras e pude presenciar o avanço de políticas do governo Lula que contribuem para que as mulheres, do campo e da cidade, tenham uma vida mais digna, plena de respeito e de direitos. Para mim é uma honra muito grande participar de um governo que criou, em 2003, a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, com status de ministério. Nestes últimos anos, temos uma maior participação das mulheres no primeiro escalão do governo federal, ou seja, em espaços importantes de poder e de decisão. Isto é uma forma concreta de dar maior visibilidade às mulheres e ao trabalho que elas realizam, mas, principalmente, de implementar políticas públicas. Pela primeira vez no Brasil foram feitas duas conferências nacionais reunindo mulheres de todos os estados para debater e aperfeiçoar o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, que inclui uma série de ações e metas relacionadas à saúde, educação, igualdade no trabalho, combate à violência etc. Foi neste novo cenário também que tivemos condições de aprovar a lei Maria da Penha – uma lei que ‘pegou’, pois se percebe o quanto as mulheres se sentem mais fortalecidas para enfrentar o problema já que a Lei Maria da Penha é um estímulo efetivo para que a violência seja denunciada e punida. O combate à violência contra a mulher é prioridade para nós porque ainda é uma triste realidade no Brasil. Para tanto, o governo Lula propôs o Pacto Nacional pelo Enfrentamento da Violência contra as Mulheres, que vai investir quase R$ 1 bilhão até 2011 em ações de prevenção, proteção e garantia às mulheres que sofrerem violência e de combate à impunidade dos agressores. Fazem parte do Pacto a criação de juizados de violência doméstica e familiar contra a mulher, previstos na Lei Maria da Penha; o fortalecimento da rede de atendimento a vítimas da violência, com criação de novas delegacias especializadas no atendimento à mulher, defensorias públicas da mulher e casas de abrigo às vítimas; atendimento às mulheres em situação de violência nos centros de referência de assistência social; e campanhas educativas de prevenção da violência doméstica e familiar. Mas a implementação de todas estas ações depende do compromisso de todos os poderes (executivo, legislativo e judiciário) e da sociedade civil organizada, nas esferas nacional, estadual e municipal, para que se possa avançar mais e de forma mais rápida. Não podemos admitir, por exemplo, que aconteça o que aconteceu em 2004, quando consegui incluir no orçamento da União uma emenda de...

O dia 8 de março é dedicado como o dia internacional da mulher

06/03/2009
Neste ano, as homenagens às mulheres serão prestadas pela CUT de forma diferente: o local escolhido foi o município de Santana do Livramento (RS), fronteira com o Uruguai. O lugar não é sem propósito: além de querer realizar um ato público conjunto com os trabalhadores do Cone Sul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) o movimento sindical estará também denunciando o alto índice de violência contra a mulher daquela região.   Segundo dados, o município gaúcho de Santana de Livramento é registrado como um dos que a mulher mais sofre estupro. Esta é apenas uma das violências contra a mulher; outras como agressões morais e psicológicas alastram-se pela região do Cone Sul, num claro desrespeito à mulher mãe, trabalhadora, cidadã e educadora.   No Brasil, apesar da vigência da Lei Maria da Penha, ainda é alto o índice de crimes cometidos contra a mulher. E, embora com o respaldo da lei, são poucas as que denunciam e compartilham com outras companheiras estes constrangimentos.   Como vemos, o medo e a falta de informação são grandes entre as companheiras. Precisamos prestar apoio, socializar experiências e informações para que realmente seja dado um basta na covardia daqueles que atacam – física e moralmente – as mulheres. Nas escolas públicas catarinenses, onde 80% do quadro de trabalhadores são do sexo feminino, as agressões contra a mulher chegam de diversas formas – e muitas delas, sutis.   As agressões vão desde a falha na legislação que não valoriza a mulher, chegando à atitudes de colegas, pais e familiares que, educados sob o preconceito machista, não respeitam e humilham a mulher. Esta situação também é registrada contra as estudantes do sexo feminino, onde a mulher é discriminada e alvo de agressões constrangedoras, pejorativas e imorais.   O estado de Santa Catarina não disponibiliza de uma política pública de atendimento à mulher agredida: não há casas de abrigo que guarneçam as mulheres que sofrem com a agressividade do lar. Assim como também não há uma rede de apoio para dar amparo à mulher vítima de violência física ou moral (apenas algumas prefeituras fornecem atendimento às mulheres nestas condições). A política estadual catarinense não tem como preocupação oferecer algum serviço – público e gratuito – que ajude a mulher vítima de violência a reconstruir sua vida. Muitas delas, em razão da falta de recursos, se submetem às condições humilhantes impostas por seus agressores porque o Estado vira às costas para tão grave violação aos direitos humanos.   Companheiras, precisamos mudar esta realidade. Vamos, de fato, assumir o espaço já desbravado e conquistado por outras mulheres. Vamos mostrar aos nossos parceiros, amigos, colegas e vizinhos que somente unidos podemos pensar num mundo justo, de lutas comuns que busquem...

“É uma guerra de resistência; temos que segurar o manche e agüentar”

04/03/2009
A professora Maria da Conceição Tavares ainda nem tomou o café da manhã da segunda-feira, 2 de março. Mas já devorou os dados do noticiário sobre a crise e passa rapidamente deles para conversar com Carta Maior sobre os eixos da palestra que fará nesta quinta-feira, dia 5 de março, às 14h30min. Conceição abre nesse dia a primeira mesa de debates do Seminário Internacional sobre o Desenvolvimento que acontece em Brasília. Organizado pelo Conselhão, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, da Secretaria de Assuntos Institucionais do Governo, o seminário tem tudo para ser um importante contraponto de densidade ao enfoque ora alarmista, ora epidérmico que contamina muitas análises da crise mundial e, sobretudo, de seu impacto no Brasil. Inagurado oficialmente pelo Presidente Lula às 9 hs da manhã, o seminário internacional tem a coordenação do ministro José Múcio que convocou duas dezenas de intelectuais, autoridades e lideranças – do Brasil e do exterior – para um balanço daquele que já é reconhecido como o maior colapso da história do capitalismo desde 1929. A TV Carta Maior transmitirá ao vivo os debates, com cobertura completa das mesas programadas para a quinta e sexta-feira. Por ser a reflexão de uma das economistas mais respeitadas do país, a fala da professora Maria da Conceição certamente esticará linhas que vão interligar o conjunto das discussões. Há precedentes que justificam essa expectativa. Veio da “implacável lucidez” da economista, para emprestar o elogio de um de seus muitos admiradores, Carlos Lessa, algumas das reflexões seminais que ajudaram a compreender a evolução da economia brasileira no século XX. Reunidas num livro lançado no início dos anos 70 ("Da substituição de importações ao capitalismo financeiro”) essas intervenções figuram ainda hoje como um ponto de passagem obrigatório para quem pretende entender a dinâmica do desenvolvimento capitalista no país. Pela primeira vez na história, o Brasil enfrenta uma crise mundial sem ter que carregar o setor público nas costas. “Veja bem”, diz Conceição quando perguntada sobre qual seria agora o foco principal de sua análise na exposição da quinta-feira, ”estamos diante de uma tempestade global. Não é apenas a violência que assusta; é, principalmente, o fato de que a sua origem financeira torna tudo absolutamente opaco no horizonte da economia internacional. Mente quem disser que sabe o que virá e quanto vai durar. Minha percepção mais clara é de que será uma guerra de resistência; e que o Brasil tem condições de segurar o manche, e agüentar”. Conceição não é propriamente uma poliana acostumada a distribuir cálices de bondades nos salões da política brasileira. Tampouco ganhou o respeito ecumênico que desfruta em círculos intelectuais e acadêmicos por irradiar otimismo panglossiano. A adversária temida e respeitada do conservadorismo nativo...

É hora de ampliar, com determinação, o investimento público no País

26/02/2009
Entre os emergentes o Brasil é um dos países que ainda está se saindo bem no quadro internacional. Entre o chamado BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) a Rússia é o país mais afetado pela crise. A produção industrial do país recuou 20% em janeiro e as estimativas oficiais para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2009 foram recentemente revistas para -2,2%. O país já queimou US$ 200 bilhões das suas reservas tentando deter a queda do rublo e setores do governo pressionam por um controle de câmbio para estancar a fuga de capitais. Os países emergentes asiáticos também sofrem duramente a crise. A Coréia do Sul teve queda do PIB em 5,6% no último trimestre de 2008. Após a maior queda das exportações de sua história em janeiro, de 17,5%, a estimativa é que a China cresça 7,4% em 2009. A Índia sofrerá também, mas a previsão oficial é ainda de um crescimento de 5,6% para 2009, ótimo desempenho considerando o crescimento da economia mundial no ano. Em termos comparativos, o comportamento da economia brasileira até o momento é razoável. Conforme tem sido destacado por vários analistas, alguns fundamentos da economia brasileira tem sido determinantes na capacidade de o país enfrentar a crise sem quebrar, após o seu agravamento, a partir de setembro de 2008. São eles: a) menor dependência do mercado consumidor dos Estados Unidos, centro da crise; b) nível das reservas cambiais existentes no país, em torno de US$ 200 bilhões; c) o dinamismo do mercado interno, que tem sido o motor do crescimento da economia brasileira nos últimos trimestres; d) desempenho do mercado de trabalho, com queda da taxa de desemprego nas Regiões Metropolitanas e crescimento da renda (até novembro); e)situação da dívida pública, que vem caindo nos últimos anos em relação ao PIB, e que hoje está em 36% do PIB; f) nível de depósitos compulsórios, um dos instrumentos que o Banco Central usa para controlar a quantidade de dinheiro que circula na economia; g) as obras do PAC, que contribuíram para acelerar o crescimento em 2008, vêm sendo executadas, e tem papel fundamental nas áreas de investimentos em infra-estrutura, estímulo ao crédito e ao financiamento, melhora do ambiente de investimento, desoneração e aperfeiçoamento do sistema tributário e medidas fiscais de longo prazo. Passado seis meses do processo de agravamento da crise internacional, já com os países desenvolvidos em recessão, a constatação é que a maioria dos itens relacionados acima tem ajudado o Brasil a enfrentar a crise (com exceção do mercado de trabalho, que se deteriorou bastante a partir de dezembro). Alguns sintomas reforçam essa constatação. O risco Brasil, por exemplo, caiu de 473 pontos na média de novembro para 430 pontos em...

Palestina: uma questão de justiça

26/02/2009
Uma maré de solidariedade ao povo palestino percorre o mundo nos últimos dois meses. Como em outros tempos o repúdio à intervenção dos EUA no Vietnã ou a campanha pelo fim do apartheid na África do Sul, a condenação dos crimes contra a humanidade cometidos por Israel em Gaza se tornou uma dessas causas capazes de unir, no mesmo sentimento, as pessoas que compartilham uma noção essencial de justiça, acima das fronteiras étnicas e religiosas. É inaceitável a indiferença ou a conivência com o massacre de civis, a destruição de suas casas, a opressão cotidiana em Gaza e Cisjordânia, a intransigência de Israel em perpetuar a ocupação ilegal que se prolonga desde 1967. O PT, fiel à sua tradição internacionalista e aos seus valores humanistas, manifestou-se nesse episódio do lado certo, somando sua voz aos que defendem o fim imediato da ocupação e a criação de um Estado palestino soberano, viável e em bases dignas. Em artigo divulgado no espaço virtual petista (www.pt.org.br), o economista Paul Singer, um veterano lutador do povo brasileiro, também defende o fim dos ataques em Gaza, mas critica os termos em que tem se expressado o repúdio geral à conduta de Israel. Na sua opinião, é necessário condenar em igual medida a violência praticada por israelenses e por palestinos. Suas ponderações, embora expressem uma aspiração sincera pela paz, têm como fio condutor um raciocínio equivocado, muito presente na cobertura da mídia: o de abordar o conflito a partir de uma suposta simetria entre palestinos e israelenses. Trata-se de uma ideia simples e elegante – por isso mesmo, tentadora. Diante de dois povos em luta pelo mesmo território, cada qual com seus argumentos, a atitude mais sensata seria a equidistância. Assim, o PT é criticado por tomar partido, em lugar de simplesmente se ater a uma defesa (abstrata) da paz, do diálogo, da compreensão mútua. Um mínimo de reflexão sobre o conflito israelense-palestino e suas raízes históricas já é suficiente para demonstrar o quanto é falaciosa a crença de que os motivos dos dois lados se equivalem. O Estado de Israel foi criado com base no confisco das terras dos palestinos e na negação dos seus direitos. A violência está embutida no projeto sionista desde a sua concepção, no final do século XIX, quando Theodor Herzl formulou a palavra-de-ordem de “uma terra sem povo” (a Palestina) “para um povo sem terra” (os judeus). Estava lançada ali a semente da “limpeza étnica” que acompanhou a fundação do Estado de Israel, em 1948, quando 700 mil árabes, moradores da região desde tempos imemoriais, foram obrigados a abandonar seus lares, conforme o relato incontestado de historiadores israelenses como Benny Morris e Tom Segev. Hoje os refugiados que vivem...

A campanha eleitoral de 2010 está no ar

13/02/2009
Começou a campanha eleitoral para 2010 na TV. E a Globo, como sempre, saiu na frente. Na semana passada, o Jornal Nacional e o Jornal da Globo ignoraram solenemente a pesquisa CNT/Sensus onde Lula aparece com 84% de aprovação, um recorde histórico. Mas claro, isso não é notícia pelos critérios jornalísticos globais. Muito menos o fato da ministra Dilma Roussef ter alcançado, pela primeira vez, a casa dos dois dígitos na pesquisa de intenção de votos para a presidência. E será assim até as eleições. O que não é nenhuma novidade. Pode-se criticar a Globo por vários motivos, menos pela falta de coerência. Desde a última ditadura, para não termos que voltar muito na história, ela sempre esteve do mesmo lado: elitista, entreguista, conservador. Apoio aos golpistas e ao regime militar, tentativa de fraudar a vitória de Leonel Brizola ao governo do Rio em 1982, boicote às diretas-já, criação da candidatura Collor, edição fraudulenta do debate entre ele e Lula em 1989, destituição de Collor e apoio a Fernando Henrique, Serra e Alckmin nas eleições seguintes. Sobre os primeiros casos citados, muito já se escreveu mas, como eles mesmo dizem, vale a pena ver de novo. Pelo menos alguns deles. Por exemplo, assisti – com estes olhos que a terra… – ao Jornal Nacional de 25 de janeiro de 1984, dia do comício das Diretas Já, com cerca de 300 mil pessoas na Praça da Sé, em São Paulo, noticiado como uma festa pelo aniversário da cidade. Isso foi dito na abertura da matéria lida pelo apresentador no estúdio (na "cabeça", segundo o jargão do telejornalismo). Texto nunca mostrado pelos atuais funcionários da empresa, encarregados da revisão histórica do período, nas inúteis tentativas de negar o fato. Ouvi, com estes ouvidos que terão o mesmo destino dos olhos, uma longa entrevista (mais de 15 minutos) na rádio Globo, em 1988, com o então desconhecido governador de Alagoas, Fernando Collor de Melo. Ele era apresentado ao País como o "caçador de marajás", assim chamados os funcionários públicos alagoanos detentores dos salários mais altos. Na mesma época, o Globo Repórter dedicava uma edição inteira ao mesmo tema. Começava então uma campanha eleitoral que teria seu ponto alto na edição caprichada do debate Collor-Lula, apresentada no Jornal Nacional, na véspera da eleição. A ordem do dono da empresa era taxativa: mostrar todas as intervenções positivas do seu candidato e tudo de ruim que ocorreu com o adversário. A edição competente virou o jogo. Eleito, Collor caiu logo em desgraça nos altos escalões do Jardim Botânico. Até novela foi feita para derrubá-lo e nunca protestos de rua, como o dos "caras-pintadas", foram tão bem vistos pela emissora. Já ouço alguém dizendo: "lá vem...

Não tem mágica: a saída está no crescimento do emprego e da renda

06/02/2009
O Brasil nos últimos meses vem apresentando crescimento vigoroso do emprego de carteira assinada, fator que tem sido decisivo na melhoria do perfil de distribuição de renda, verificada a partir de 2004. Os dados do CAGED relativos a dezembro, no entanto, foram os piores no mês desde o início da série histórica, com saldo negativo de 654.946 postos formais de trabalho no Brasil. O número equivale a mais que o dobro da perda média histórica de dezembro que, normalmente registra o fechamento de 300 mil vagas no mês. O resultado de dezembro frustrou a possibilidade de um recorde na geração de empregos formais em 2008, já que o saldo atingido, de 1,45 milhão de empregos formais, foi menor do que os obtidos em 2004 e 2007. Tudo indica que os primeiros meses de 2009 – pelo menos no primeiro trimestre – serão muito fracos para a geração de empregos. Além de o comércio estar em um período de desova de estoques, o número de ocupados na indústria deve continuar caindo nos primeiros meses de 2009, em função da desaceleração do nível de atividade. Na tentativa de evitar um travamento brusco dos investimentos, com conseqüências desastrosas para o emprego, o governo federal anunciou no dia 22 de janeiro a elevação do orçamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que terá um reforço de R$ 100 bilhões a serem disponibilizados em 2009 e 2010. Estes recursos serão destinados ao crédito produtivo visando compensar a retração da disponibilidade de crédito. São R$ 50 bilhões por ano que podem ter um papel importante no enfrentamento da crise, na medida em que serão destinados a financiar o investimento. A concessão destes financiamentos vem condicionada a geração de empregos, uma decisão muito oportuna, já que algumas empresas têm financiado demissões com dinheiro subsidiado. De todos os desafios do Brasil em 2009, o mais crucial é garantir a continuidade do processo de crescimento que o país vem atravessando nos últimos anos. Nem que seja a taxas menores do que as dos anos anteriores. Para tanto, a ação do Estado, que também no Brasil será fundamental, deve: a) garantir a liquidez, isto é, o crédito na economia; b) garantir a renda da população; c) assegurar a manutenção do crescimento do emprego formal.  Por isso é fundamental a manutenção do poder de compra dos salários e, inclusive, os seus ganhos reais. Somente o reajuste em 12% do salário mínimo nacional, a partir de 01 de fevereiro, deve injetar cerca de R$ 27 bilhões na economia em 12 meses e beneficiar 43 milhões de pessoas, segundo estimativas do DIEESE. Medidas tipo a ampliação do valor do Bolsa Família, adotada recentemente, são essenciais porque protegem o que...

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