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[Boletim CONJUNTURA SEMANAL Nº 4 – Subseção do DIEESE da FECESC – 14 a 21 de outubro de 2017]

bandeira no solo brasileiro

A semana começou com uma bomba para a ideologia da recuperação econômica. Agosto registrou queda de 0,38% na economia brasileira. Caiu não apenas a economia, mas também a lorota contada por Rede Globo, CBN, Folha de São Paulo e demais agentes da mentira. A mídia comercial e seus economistas comportam-se como torcedores e não como analistas sérios da realidade. Torcem desesperadamente para Temer salvar a economia, pois sabem que se ela afundar, eles naufragam junto com seu comandante.

 

  1. A falsa recuperação econômica

O povo brasileiro foi bombardeado nos últimos meses com duas mentiras. A primeira, de que a economia brasileira estava em recuperação. A segunda, que esta recuperação ocorria em função da recuperação da confiança dos investidores na economia, fruto das medidas de destruição da vida do povo que Temer adotou. Tudo desmoronou rapidamente com a divulgação da queda de 0,38% em agosto do Índice de Atividade Econômica do Banco Central – o IBC-Br. O índice havia crescido lentamente no ano (0,42%) e a queda de agosto joga água fria nas expectativas do governo.

Além disso, no mesmo dia (quarta-feira 18/10), o BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – divulgou que o mês de setembro foi de forte recuo das consultas de empresas em busca de crédito (34,9%), o maior recuo desde 2002. No acumulado do ano a situação também é precária, queda de 12% quando comparado ao mesmo período do péssimo ano anterior. O banco é o único responsável pelos empréstimos de longo prazo no Brasil – aqueles utilizados para ampliação de capacidade produtiva –, mostrando que não há perspectiva alguma de recuperação econômica.

 

  1. Indústria falida e burguesia especuladora

No setor industrial o cenário é ainda pior. Entre o início de 2014 e o início de 2016 a indústria viveu a maior queda da sua produção desde os anos 90 [O setor industrial caiu 18% em dois anos, sendo que dentro dele, setores fundamentais caíram ainda mais: 34,5% na produção de máquinas e equipamentos e 45,6% na produção de veículos automotores]. Desde então, a indústria está andando de lado, sem demonstrar qualquer reação, sendo que o crescimento deste início de ano é de apenas 1%. O cenário se agrava quando olhamos para o fato de que a indústria está trabalhando com apenas 74,7% da sua capacidade instalada – a média histórica é de 80,7% –, ou seja, qualquer crescimento na produção, mesmo que pífio, não se reverte em aumento nem do investimento nem do emprego, apenas em utilização de capacidade ociosa.

Aliás, este crescimento do início de ano se deve unicamente aos setores industriais baseados na exportação de produtos de baixa tecnologia, como a agroindústria, por exemplo e ao pequeno e breve surto de consumo baseado na liberação do FGTS. De outro lado, a elite monopolista continua lucrando mesmo com a queda da economia. Lucra 1) na ciranda financeira da dívida pública, onde apenas no ano de 2016 faturou R$ 1 trilhão e 250 bilhões em juros, amortizações e refinanciamentos; 2) na exportação de commodities em um primeiro semestre de elevação dos preços internacionais destes produtos – o que explica o crescimento econômico do período; 3) na aquisição de empresas menores sem capacidade financeira de enfrentar a crise; 4) na compra do patrimônio público liquidado nas privatizações; e 5)na retirada de direitos dos trabalhadores, onde a destruição das leis trabalhistas se reverte em ampliação da rentabilidade dos capitalistas.

 

  1. Crise política e elite dirigente brasileira em frangalhos

Qualquer sistema político necessita de um núcleo dirigente. No sistema capitalista isso é ainda mais evidente e necessário. O sistema envolve múltiplos interesses, na grande maioria das vezes divergentes, onde a elite econômica necessita de uma elite política com capacidade de apontar caminhos para o país, estabelecendo consensos com as classes subalternas para que elas aceitem a dominação. Estes consensos, por sua vez, se dão tanto pela via do convencimento quanto pela via da violência, seja ela sutil ou escancarada. O núcleo dirigente em uma democracia envolve não apenas o poder executivo, mas também os outros poderes, as forças armadas e a sociedade civil organizada (mídia, entidades de representação, igrejas, etc.), ou seja, é um núcleo descentralizado e com múltiplos atores.

Quando a base econômica se expande, gerando emprego e salário – mesmo que de baixa qualidade –, a possibilidade de consenso entre as classes é maior. Quando, no entanto, a crise capitalista atinge o país e tem como saída da elite a guerra contra o povo para aumentar a lucratividade, o espaço de consenso se esvai. As fissuras sociais vêm à tona e, por consequência, o próprio núcleo dirigente apresenta rachaduras mais ou menos graves.

No Brasil, vivenciamos nesta semana que passou, mais um capítulo dos atritos e fissuras dentro do núcleo dirigente. O caso da absolvição de Aécio Neves é expressão dessas rachaduras que cada vez ganham maior envergadura. Primeiro a ala da Lava-jato dentro do Ministério Público, em mais uma demonstração do seu fanatismo contra as regras da República, definiu pelo afastamento de Aécio do seu cargo de senador, de maneira idêntica ao que havia acontecido com Delcídio do Amaral em 2016. O STF foi convocado para avaliar esta decisão e, ao contrário do caso de Delcídio, repassou a responsabilidade para o Senado. No Senado, venceu Aécio, com senadores hospitalizados indo votar até mesmo de ambulância para salvá-lo.

Mais um cabo de guerra foi travado, desta vez com a vitória do Senado contra a Lava-jato. De qualquer maneira, o ímpeto dos procuradores e dos delegados da Lava-jato não será facilmente contido. O sistema político da classe dominante briga entre si, demonstrando a fragmentação do núcleo dirigente. Como a crise capitalista não tem resolução à vista, isto deve permanecer, acumulando-se situações de conflito. Para os trabalhadores, nenhum destes setores está interessado em lhes defender. A briga é para saber qual setor irá comandar o processo de retirada de direitos que, a despeito das rachaduras, continua a passos largos. Tudo isso ocorre aos olhos da população, que alimenta o sentimento de que, dentro deste jogo apodrecido dos poderes, ninguém lhes representa. Diante disso, nossa saída só pode ser pela organização do povo na luta, apenas aí há esperança.

 

Responsável Técnico: Maurício Mulinari

Fontes:

http://www.valor.com.br/brasil/5160038/economia-brasileira-recua-038-em-agosto-aponta-bc

http://www.valor.com.br/brasil/5159738/demanda-por-credito-do-bndes-perde-folego

http://www.valor.com.br/brasil/5158098/para-economistas-setor-industrial-so-retomara-investimentos-em-2019

http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/10/1927993-19-senadores-que-votaram-pro-aecio-sao-alvo-da-lava-jato.shtml

Publicado em 18/10/2017 - Tags: , ,

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