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Em entrevista ao DC, o consulado de Israel no Brasil e a embaixada brasileira naquele país estão dispostos a auxiliar os jovens que foram vítimas do tráfico de bebês nos anos 1980. Os representantes antecipam as dificuldades para aproximar mães e filhos devido aos documentos falsos que possuem.

Na embaixada do Brasil em Israel, mais de 15 possíveis brasileiros procuraram ajuda nos últimos dois anos. Por telefone ou batendo à porta, eles queriam saber sobre suas famílias de origem, suspeitando terem sido vítimas do tráfico de bebês entre Brasil e Israel na década de 1980. O ministro-conselheiro, Alexandre Campello de Siqueira, conta que poucos saíram da embaixada ou encerraram a ligação com uma resposta.

— Se eles tiverem um documento brasileiro é mais fácil, a gente pode dar um passaporte. Mas a maioria, no caso, não tinha — afirma.

Em 2010, quando apareceram os primeiros jovens, o Itamaraty informou que quem cuidaria do caso seria a Secretaria de Direitos Humanos. Mas as pessoas também poderiam procurar diretamente as Comissões Estaduais Judiciárias de Adoção (Ceja) no Brasil. Desde então, quem procura a Embaixada em Israel recebe uma lista com os telefones dos Cejas.

Para o ministro-conselheiro, as buscas esbarram em uma questão pessoal, já que muitos desistem da procura por não quererem mais encontrar as famílias. A falta de documentação e as demandas da embaixada são outros fatores que emperram as investigações que partem do país do Oriente Médio.

Do lado brasileiro, não é possível saber quantos quiseram ajuda via embaixada. O cônsul de Israel em São Paulo, Ilan Sztulman, ressalta que o consulado — responsável pela região Sul — foi fechado em 2002 e reaberto há um ano e meio. Isso pode ter reduzido as chances de busca de quem não conseguiria recorrer ao setor consular, em Brasília.

Sztulman ressaltou que foram enganados, na época das adoções ilegais nos anos 1980, governos do Brasil e de Israel e as famílias adotivas. O endurecimento das leis de adoção em Israel se deve a esse período. O cônsul sabe das dificuldades em se promover o reencontro das famílias. As palavras de Sztulman não deixam de ser um alívio para quem enfrentou um verdadeiro calvário em busca de informação. Em entrevista ao DC, ele garantiu que, quem quiser ajuda, relacionada a esses casos, vai ter.

— É um dever nosso ajudar no censo de procurar. Em Israel temos uma lei que diz que a pessoa tem o direito de ter qualquer informação que não seja secreta. É até uma coisa legal, do nosso ponto de vista — ressaltou o cônsul.

Entrevista

Alexandre Campello Ministro-conselheiro

“”Não há como sair atrás de brasileiros””

A Embaixada do Brasil em Israel, em Tel Aviv, é o ponto de apoio de brasileiros que buscam ajuda. O DC entrevistou o ministro-conselheiro Alexandre Campello de Siqueira.

DC — Se foi possível, para a reportagem, fazer o reencontro com duas famílias, por que os governos não conseguem estabelecer esse contato?

Alexandre Campello de Siqueira — O governo pode tentar. Mas a pessoas têm que procurar o governo. Vocês tiveram que correr atrás deles aqui, a gente não tem como sair por Israel perguntando “”tem algum brasileiro que acha que foi adotado?”” A gente está aqui à disposição, tanto que eles ligam. A maioria não fala português, eles foram criados aqui e falam “”eu acho que sou brasileiro, o que faço?””

DC — E eles têm condições de procurar os órgãos do Brasil, já que muitos nem falam português?

Campello — Como o problema não é só de Israel, eles têm como achar alguém, nem que seja em inglês.

DC — Há empenho do governo brasileiro em ajudar esses jovens?

Campello — Há, sim. A gente não tem muito o que fazer porque, como é uma coisa muito pessoal, é a própria pessoa que tem que aceitar se quer.

DC — Qual a maior dificuldade os jovens reencontrem as famílias?

Campello — A falta de documentação. Não sabem exatamente de onde são, a menos que os pais adotivos contem.

Ilan Sztulman Cônsul de Israel

“”Auxiliar os jovens é um dever nosso””

As palavras do cônsul Ilan Sztulman são um consolo aos jovens que tentam montar o quebra-cabeças e reencontrar suas mães, e, para isso, fazer inúmeras ligações internacionais.

DC — O Consulado já foi procurado por mães querendo encontrar os filhos em Israel?

Sztulman — Quem fizer pedido oficial, nós vamos passar esse pedido para as autoridades de Israel, quem quiser achar algum filho, sem dúvida, vamos tentar. É um gesto humanitário.

DC — Qual a orientação para famílias da região sul?

Sztulman — Procure o consulado. Muitas vezes é praticamente impossível solucionar porque o cartório já não existe. Mas, os registros que nós temos em Israel, são todos feitos e se alguém quiser achar, nós vamos tentar achar.

DC — O Consulado já conversou com órgãos brasileiros sobre isso?

Sztulman — O canal de comunicação existe com Ministério de Justiça e Itamaraty. Sei de casos que pediram informação de Israel para o Brasil e autoridades brasileiras cooperaram. Mas o canal de comunicação existe.

DC — Os governos dariam conta de ajudar as centenas de vítimas?

Sztulman — É um dever nosso. Em Israel temos uma lei que diz que qualquer pessoa que quiser uma informação que não seja secreta, tem o direito de pedir e o governo de dar essa informação. É até uma coisa legal, do nosso ponto de vista. Pode ser que consiga informação que não possa ajudar.”

Publicado em 16/08/2012 -

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