Pesquisar

Redes sociais


Print Friendly, PDF & Email

Mulheres em Luta - Foto: Rubens LopesLuta nas ruas, nas redes e em discussões nas rodas de amigos e familiares, as mulheres em 2015 assumiram o protagonismo e marcaram o ano como Primavera das Mulheres, um ano de embate entre o retrocesso e a briga por mais direitos, conquista de espaço e empoderamento.

A sociedade está mudando, as mulheres estão a cada dia negando o papel que tentam lhe impor de submissas, elas não aceitam mais os estereótipos e regras que as aprisionam e as colocam como ré em situações de violência. Seja em grupos de conversa, em cursos, nas redes sociais ou entre amigas, a união feminina ganha espaço dia a dia e põe à tona os assédios vividos cotidianamente pelo sexo feminino.

É como que elas estivessem seguindo o pedido do discurso da atriz hollywoodiana, Patricia Arquete, que ao ganhar o Oscar em fevereiro de 2015, chamou todas para lutar pelos seus direitos. “Nós temos lutado pelos direitos iguais de todas as outras pessoas, é a nossa hora de ter igualdade salarial de uma vez por todas e direitos iguais para as mulheres”, exaltou a atriz.

Parece que Patricia já previa o que estava por vir, as redes sociais foram utilizadas como palco do desabafo feminino e trouxe à tona as violências sofridas pelas mulheres. A hashtag #meuprimeiroassedio levou várias delas a darem seu depoimento sobre violências escondidas, muitas por medo e outras por se sentirem envergonhadas. A hashtag foi utilizada mais de 82 mil vezes. Já no mês seguinte a campanha que fez sucesso foi o #meuamigosecreto, em que mulheres denunciaram abusos feitos por amigos, familiares e pessoa íntimas.

A jornalista Daisy Chio foi uma das mulheres que aproveitou a campanha para fazer o seu desabafo, ela destacaque após a postagem, várias outras mulheres conseguiram identificar o autor e relataram terem sofrido assédio da mesma pessoa, formando assim uma corrente de solidariedade entre elas.  “Poder falar do que me aconteceu há anos, sem ter que dizer nomes, me libertou. Eu precisava falar sobre esse assédio sofrido, mas eu tinha medo, eu tenho medo, inclusive. O movimento me encorajou, e, a partir dele, muitas mulheres entenderam de quem era ou para quem era o relato e confessaram terem sofrido a mesma coisa que eu. A partir desse dia, eu comecei a saber lidar com isso e vi que tenho forças para lutar contra este trauma do assédio que vivi”, destacou Daisy.

A luta das mulheres também virou tema de redação do Exame Nacional do Ensino Médio – Enem. A prova feita por mais de oito milhões de pessoas causou polêmica por trazer pela primeira vez um assunto ligado à violência doméstica. “O tema da redação só fortaleceu a nossa campanha e luta pelo fim da violência. É importante que os estudantes brasileiros tenham conhecimento do quão grave são os dados de violência no país e os reflexos dessa violência na sociedade”, destacou a professora e presidenta da CUT-SC, Anna Julia Rodrigues.

Mas o tema das mulheres não ficou só nas redes ou nas provas de redação, elas ocuparam as ruas, organizadas por entidades ou chamadas livremente por movimentos. Em agosto as mulheres pintaram de lilás as ruas da capital brasileira na Marcha das Margaridas, foram mais de 100 mil mulheres de diversas regiões do país que foram a Brasília reforçar a importância da pauta da reforma agrária, soberania alimentar, igualdade de direitos e o fim da violência contra a mulher.

Em novembro foi a vez da Marcha das Mulheres Negras que ocuparam as ruas da capital do país com cor, raça e força. Jucélia Vargas, ex-Secretaria da Mulher da CUT-SC participou das duas atividades e destaca a importância dos atos para recolocar na ordem do debate a pauta das mulheres. “Ficou um sentimento que precisamos gritar para o mundo mudar, precisamos lutar contra os altos índices de violência, contra a discriminação que mulheres negras sofrem, sendo a base da pirâmide e sobre elas que recaem os dados mais alarmantes de desigualdades. Lutamos porque sabemos que as conquistas não nos serão dadas, mas batalhadas”, destaca Jucélia.

Além das Marchas já previstas nos calendários e organizadas pelas entidades, tiveram os levantes das mulheres contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha do PMDB. Cunha representa o grupo conservador do Congresso, dentre várias outras pautas, ele resolveu tirar da gaveta projetos que atacam o direito das mulheres, entre eles, o que mais gerou polêmica foi o Projeto de Lei 5.069, que prevê alterações na interrupção voluntária da gravidez, inclusive nos casos de violência sexual.  Esse retrocesso na lei brasileira fez com que muitas mulheres protestassem em vários cantos do país, somados aos protestos que já aconteciam na internet esse período foi batizado como “Primavera feminista”.

Mas, apesar dessa Lei retrógada do Cunha, 2015 ficou marcado positivamente pela aprovação da Lei 13.104, conhecida como Lei do Feminicídio ela altera o código penal e traz penas mais severas para quem assassina as mulheres justamente pelo fato de ser mulher.

Na luta sindical CUTista o ano de 2015 também foi histórico na luta por igualdade entre homens e mulheres. Aprovado em 2013 e aplicado nesse ano, todas as direções das CUTs estaduais e a CUT nacional tiveram, pela primeira vez, paridade nas suas composições, todas com direções compostas por 50% de homens e 50% de mulheres. “Isso foi fruto de um processo longo dentro da central e de empoderamento das mulheres. Estamos nas direções não para preencher vagas, mas ocupando espaços importantes de decisão”, destaca Anna Julia Rodrigues, que se tornou a primeira mulher a presidir a CUT de Santa Catarina. “Tenho uma grande responsabilidade, a cobrança para nós mulheres é sempre em dobro, mas acredito na construção de uma direção participativa e que envolva todos e todas”, salienta Anna.

Sueli Silvia Adriano, Secretaria da Mulher da CUT-SC ressalta que, apesar do saldo positivo das lutas das mulheres em 2015 a diferença salarial entre homens e mulheres continua gritante, a violência preocupa e o machismo parece perpetuar entre a juventude. “É preciso continuar a luta e juntar mais forças. O mundo ainda tem grandes desafios para promover, de forma consistente, queremos direitos iguais para homens e mulheres. Que nesse ano possamos desenhar mais um capítulo nessa história, a história das mulheres que não se calam, que encaram e transformam a sociedade”, destaca Sueli.

Fonte: Sílvia Medeiros/CUT Santa Catarina

Siga-nos

Sindicatos filiados