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Para lembrar os 42 anos do AI-5, a CUT realizou nesta segunda-feira (13) o ato “Democracia e Liberdade Sempre”, em que homenageou brasileiros e brasileiras que lutaram contra a ditadura militar, nos anos 1960 e 70.

O ato foi aberto pela apresentação do pianista e compositor Wagner Tiso e do violoncelista Márcio Malard, que executaram músicas como “Brasileirinho” e “Trenzinho Caipira”.

A iniciativa do ato teve como motivo a recente onda de criminalização, puxada pela campanha eleitoral do candidato derrotado à Presidência, daqueles que combateram a ditadura. O discurso daí surgido, e alimentado pela mídia tradicional, tenta “desconstruir a história e ocultar a verdade das novas gerações, que não viveram aquele período”, conforme lembrou à plateia o presidente da CUT, Artur Henrique.

A organização do ato optou também por transformar a data no lançamento do prêmio “CUT- Democracia e Liberdade Sempre”, que a partir da próxima edição será entregue a um brasileiro ou brasileira que se destaque nas lutas sociais, e que serão escolhidos por indicação popular, com a mediação de um comissão nacional.

Este ano, o prêmio foi entregue a 13 convidados – entre os quais duas organizações, o MST e a UNE. O dia 13 de dezembro foi escolhido por marcar a data em que a ditadura militar baixou o AI-5.

A mesa do ato foi composta por Vladimir Palmeira, líder estudantil durante a ditadura; Fernanda Carisio, ex-presidente do Sindicato dos Bancários do Rio e militante perseguida pela ditadura; Wanderley Guilherme dos Santos, cientista político; José Dirceu, ex-ministro e líder estudantil na década de 60; Sérgio Mamberti , ator e militante; Maurice Politi, coordenador do Projeto pelo direito à memória da Secretaria Nacional de Direitos Humanos; Artur Henrique, presidente da CUT Nacional; e Darby Igayara, presidente da CUT Rio.

Palmeira defendeu a concepção sindical da CUT como ferramenta de transformação. “Sindicato que só luta pelos direitos imediatos da categoria está enganando os trabalhadores. Sindicato tem de fazer política, porque precisamos lutar por uma sociedade solidária e socialista”, disse.

O ex-deputado também discorreu sobre a mudança de tratamento que os meios de comunicação têm prestado à geração que lutou contra a ditadura. “Até a época em que o Fernando Henrique era presidente, quem combateu a ditadura era chamado de democrata. Depois que nós ganhamos, o tratamento passou a ser de ‘terrorista’, ‘ladrão de banco’, ‘assassino’ e outras coisas. Sabem por quê? Porque eles nos queriam coadjuvantes. Mas para azar deles, nós vencemos e vamos continuar vencendo”, disse.

Mamberti lembrou que a “cultura é revolucionária por definição” e que se configura num espaço privilegiado para a militância política, que precisa ser ocupado. Maurice Politi fez um breve retrospecto das atividades realizadas pela SNDH e anunciou o lançamento do quinto livro da série “Direito à Memória”, intitulado “Hábeas Corpus”, com a história de 150 brasileiros ainda desaparecidos.

Fernanda Carisio afirmou que a importância do ato promovido pela CUT é informar as novas gerações que, sem conhecimento do que foi o período da ditadura, desconhecem a luta que se dá para que as coisas sejam como são atualmente e portanto “são presas fáceis da manipulação”. Para ela, a “revolução que a gente quer só vai avançar com a divulgação de uma cultura de que é preciso lutar. Para isso, temos de fazer comunicação, construir os nossos veículos. O outro lado está entrincheirado”, alertou.

O professor Wanderley afirmou que “a ditadura pode muitas coisas, mas não pode tantas outras. O povo não se envergonha de ser povo, mas o poder ditatorial se envergonha de ser poder. Por isso nós podemos estar aqui para homenagear nossos mortos e nossos vivos, mas a ditadura não, porque se esconde”.

Zé Dirceu insistiu no conceito de que “quem pegou em armas” não foi a sua geração, mas o governo militar. E que, mesmo durante o período da ditadura, o povo a derrotou nas urnas por mais de uma ocasião, como nas eleições de 1966 e de 1974. Na primeira, o então MDB, de oposição, elegeu 132 deputados (contra 277 da Arena, que tinha a máquina do governo nas mãos) e na segunda, o MDB elegeu 16 senadores contra apenas 6 patrocinados pela ditadura.

“Nós sempre ganhamos essa batalha”, disse. E apontou os próximos desafios: “Temos de fazer uma revolução educacional e o aprofundamento da distribuição de renda”. Na opinião de Zé Dirceu, essas transformações passam pela comunicação. “E não falo aqui de imprensa alternativa. Tudo o que eles não querem é a concorrência. Temos de aprender a usar as armas deles”, concluiu.

O presidente da CUT Nacional iniciou sua fala lembrando do processo eleitoral. “A gente sofreu muito durante a eleição com aquela tentativa sistemática de desconstrução da imagem e da história de pessoas como o Zé e a Dilma. Temos muito orgulho deles e de quem lutou a mesma luta”, afirmou. Artur disse que a luta por liberdade e por democracia tem muitas facetas e, no universo em que atua a CUT, há grandes lacunas ainda. “Nós queremos democratizar as relações de trabalho no Brasil, que são ainda extremamente autoritárias”.

Conheça os premiados:

Vladimir Palmeira, José Dirceu, Wanderley Guilherme dos Santos, José Rodrigues, Sérgio Mamberti, Edmilson Martins de Oliveira, ex-presidente do Sindicato dos Bancários do RJ; Jessie Jane Vieira, professora de História da UFRJ; Joba Alves, representando o MST; Augusto Chagas, representando a UNE; Eleonora Menecucci, professora da Unifesp e companheira de prisão de Dilma Rousseff; Wladimir Pomar, líder comunista; Nilmário Miranda, presidente da Fundação Perseu Abramo e ex-secretário nacional de Direitos Humanos; Maurício Dias, dirigente da revista Carta Capital que representou a publicação e o jornalista Mino Carta.

Publicado em 14/12/2010 -

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