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[Boletim CONJUNTURA SEMANAL Nº 9 – Subseção do DIEESE da FECESC – 9 a 13 de abril de 2018]­

Candido Portinari

O governo corrupto e liberal de Michel Temer comemora a queda da inflação como se isso fosse uma grande conquista. Do outro lado, cresce assustadoramente o número de miseráveis no Brasil, 1,5 milhão de brasileiros se somaram à estatística em 2017. Não há contradição alguma nestes dados, pelo contrário. A inflação mede a febre de uma sociedade assim como se esta fosse um paciente doente. O que a sociedade brasileira vive é o momento onde o paciente morreu, a febre despenca não por haver a cura, mas sim por não haver mais vida.

 

  1. A queda da inflação

Na última terça-feira (10/04) o IBGE divulgou os índices de inflação referentes ao mês de março. O dado é de nova queda da inflação que, no caso do INPC, atingiu 1,56% no acumulado dos últimos 12 meses, patamar extremamente baixo.  O governo correu em tratar a queda da inflação como vitória, como se isto fosse resultado da vitoriosa política de redução da taxa básica de juros, a Selic. Se a inflação é baixa, as mentiras do governo atingem níveis altíssimos. Inflação tão baixa não é sinônimo de vitória, mas sim de grande derrota e paralisia da economia nacional.

Até a capa do jornal Valor Econômico, um dos principais órgãos de imprensa da burguesia, foi clara: “Inflação quase zero confirma compasso lento da retomada”. Traduzindo, sem a ideologia típica das manchetes de jornal: “Inflação quase zero confirma ausência de retomada”. A inflação baixa significa que não há movimentação na economia brasileira. Do lado do consumo das famílias, aumenta a informalidade, o desemprego, e há queda violenta da renda das famílias, que deixam de consumir. Do lado dos investimentos, os altos lucros da classe dominante não se refletem em compra de máquinas e equipamentos, construção de fábricas e armazéns, contratação de força de trabalho etc.

A questão central é que chegamos à situação de morte da atividade econômica brasileira. Não adianta reduzir os juros básicos, os bancos não repassam a queda para os consumidores finais. Ainda assim, mesmo se os bancos reduzissem os juros, a queda da renda da população é brutal e a classe trabalhadora tem apenas pagado contas passadas, sem capacidade de realizar consumo presente e futuro. Do lado dos capitalistas, o aumento da produtividade da China e dos Estados Unidos acabaram com a possibilidade do Brasil ser competitivo em setores estratégicos como o da indústria automobilística, por exemplo.

Não adianta reduzir juros se a indústria nacional não tem onde investir, resta ao Brasil uma nova rodada de desnacionalização da economia, dando ainda mais dinheiro para a nossa classe dominante, que não tem capacidade de enfrentar os novos tempos do mundo capitalista. Caminhamos para o passado, voltando a ser um país majoritariamente produtor de mercadorias agrícolas e minerais, sem dinamismo econômico que possa reativar os negócios e gerar empregos, fazendo subir a inflação. A inflação é próxima de zero porque o cadáver da economia brasileira está esfriando.

 

  1. O crescimento do número de miseráveis

O impacto social desta dinâmica econômica não poderia ser outro: crescimento espantoso da miséria no país. Segundo dados do mesmo IBGE que mede a inflação, o número de pessoas em extrema pobreza no Brasil saltou de 13,34 milhões em 2016 para 14,83 milhões em 2017. Mesmo com crescimento de 1% no PIB, despenca as condições de vida do povo brasileiro. Não poderia ser diferente, já que o PIB cresce com base no setor agroexportador, com poucos trabalhadores empregados, baixos salários e baseado quase que unicamente na exportação.

Além disso, o ano de 2017 foi de grande expansão da informalidade no Brasil. Foram criados 1,8 milhão de vagas no setor informal enquanto que foram perdidas 685 mil vagas com carteira assinada. Crescem os trabalhadores autônomos, desesperados que passam a enfrentar as jornadas exaustivas como trabalhadores de UBER, vender marmitas para os conhecidos, trabalhar como camelôs ou costurar para uma facção de roupas ilegal, sem qualquer condição de trabalho. Natural em uma economia onde a taxa de desemprego encontra-se em um patamar estrutural de mais de 14%, com uma rotatividade no setor privado de mais de 60% e com a massa de empregados (80%) ganhando menos de 2 salários mínimos.

Com o fim da CLT, promovido pelo governo Temer e pelo covil de ladrões do parlamento nacional no final de 2016, a situação tende a apenas se agravar. Acabou a ideologia do crescimento com distribuição de renda. Aqui o que agora comanda, no atual estágio da acumulação de capital, são os lucros em alta sem crescimento e com base no aumento da miséria do povo. Mudar o cenário exige muito mais do que esperar que os economistas possam dar uma saída para nossa economia. É a hora de abandonar os velhos pactos e a conciliação de classes: construir o novo exige enterrar a classe dominante que não tem mais nada a oferecer ao nosso povo. Exige ruptura, exige revolução.

 

 

Responsável Técnico: Maurício Mulinari

Fontes:

http://www.valor.com.br/brasil/5443947/ipca-fica-perto-de-zero-no-mes-e-reflete-retomada-mais-lenta

http://www.valor.com.br/brasil/5446479/numero-de-miseraveis-aumenta-em-15-milhao

Imagem: CANDIDO PORTINARI, Retirantes (Retirantes), 1944 – Col. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand São Paulo, Brasil

Publicado em 16/04/2018 - Tags: ,

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